4º Estudo - Aceitação Total e Não Divisão: O Significado da Pureza Tântrica Pergunta: O que é a pureza para o tantra?


4º Estudo
"Se pode esperar eternamente, não precisará esperar absolutamente. Mas se não poder esperar nem um só momento, terá que esperar eternamente" - Osho
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Aceitação Total e Não Divisão: O Significado da Pureza Tântrica
Pergunta: O que é a pureza para o tantra?
Uma das coisas que muito se perguntam é: O que significa no tantra ao falar da purificação da mente, a pureza da mente, como condição básica para seguir progredindo?
1. Tudo o que normalmente se dá a entender quando se fala de pureza não é o que quer dizer o tantra.
  a- Normalmente, dividimo-lo tudo em mau e bom. A divisão pode fazer-se por qualquer razão. Pode fazer-se higienicamente, moralmente ou de qualquer outra maneira, mas dividimos a vida em dois: bom e mau.
  b- E normalmente, quando dizemos pureza queremos dizer o bom: as qualidades «más» não deveriam permitir-se e as qualidades «boas» deveriam estar pressente.
  c- Mas para o tantra esta divisão de bom e mau não tem sentidoO tantra não olhe a vida através de nenhuma dicotomia, nenhuma dualidade, nenhuma divisão.
  d- Então: «O que é a pureza para o tantra?» é uma pergunta muito relevante.
   1) Se perguntar a um santo cristão, dirá que a ira é má, que o sexo é mau, que a avareza é má. Se perguntar ao Gurdjieff, dirá que a negatividade é má, que qualquer emoção que seja negativa é má, e que ser positivo é bom.   
   2) Se os perguntas aos jainas, aos budistas, aos hindus, aos cristãos ou aos maometanos, pode ser  que divirjam em sua definição do bom e o mau, mas têm definições. Chamam más a certas coisas e boas a certas coisas. De modo que não lhes torna difícil definir a pureza. Algo que consideram bom é puro, algo que consideram mau é impuro.
  e- Mas para o tantra é um profundo problema.
  f- O tantra não faz divisões superficiais entre o bom e o mau. Então, o que é a pureza?
   1) O tantra diz que o dividir é impuro e que viver na não-divisão é pureza.
 2) Assim, para o tantra, pureza significa inocência: inocência indiferenciada. Há um menino; chama-o puro. O menino se zanga, tem impureza, assim por que o chama puro? O que é puro na infância? A inocência! Não há nenhuma divisão na mente de um menino. O menino não tem consciência de nenhuma divisão no que é bom e o que é mau.
  3) Essa inconsciência é a inocência. Isso é pureza. Inclusive se se zanga, não tem nenhuma intenção de estar zangado; é um ato puro e simples. Acontece, e quando a ira se vai, foi-se. Não fica nada dela.
   4) O menino volta a ser o mesmo, como se nunca tivesse estado zangado. A pureza não foi afetada; a pureza é a mesma. De maneira que o menino é puro porque não há mente nele.
   5) Quanto mais cresce a mente, mais impuro se torna o menino. Então a ira aparecerá como uma coisa calculada, não espontaneamente.
   6) Então, às vezes o menino reprimirá a ira: se a situação não a permitir. E quando a ira é reprimida,  será transferida a outra situação. 
   7) Quando na realidade não há nenhuma necessidade de zangar-se, se zangará, porque a ira reprimida necessitará de alguma saída. Então todo se tornará impuro, porque entrou a mente. Mas a razão da impureza não é a ira e sim a repreensão. 
   8) Um menino pode ser um ladrão aos nossos olhos, mas, por si mesmo, nunca é um ladrão, porque o conceito de que as coisas pertencem aos indivíduos não existe em sua mente. Se agarrar seu relógio, seu dinheiro ou algo, para ele não é um roubo, porque a noção  de que as coisas pertencem a alguém é inexistente.
   9) Seu roubo é puro, enquanto que inclusive seu não-roubo é impuro: está a menteO tantra diz que quando alguém se torna de novo como um menino, é puro (E Jesus disse isso claramente).
   10) É obvio, não é um menino: só como um menino. Há uma diferença e há uma semelhança.
   11) A semelhança é a inocência recuperada. Alguém é de novo como um menino.
   12) Há um menino nu: ninguém percebe a nudez, porque um menino não é ainda consciente do corpo. Sua nudez tem uma qualidade diferente à tua nudez. Você é consciente do corpo.
   13) O iniciado deve recuperar esta inocência.
   14) Mahavira viveu nu de novo. Essa nudez tem de novo a mesma qualidade de inocência. Esqueceu seu corpo; já não é o corpo.
   15) Mas há também uma diferença, e a diferença é grande: o menino é simplesmente ignorante, daí a inocência. Mas o iniciado é sábio; essa é a razão de sua inocência.  É consciente. 
   16) O menino tomará um dia conscientiza de seu corpo e sentirá a nudez. Tentará esconder-se, e se sentirá culpado, envergonhado. Chegará a tomar consciência.
   17) De modo que sua inocência é uma inocência fruto da ignorância. O conhecimento a destruirá.
  g- Esse é o significado da história bíblica da expulsão do Adão e Eva do Paraíso Terrestre.
   1) Estavam nus como meninos. Não eram conscientes do corpo; não eram conscientes da ira, a avareza, a luxúria, o sexo ou nenhuma outra coisa. 
   2) Eram inconscientes. Eram como os meninos, inocentes. Mas Deus lhes tinha proibido comer o fruto da árvore do conhecimento.
   3) A árvore do conhecimento estava proibida, mas eles comeram, porque algo proibido se torna incitante.
   4) Algo proibida se torna atrativa! Viviam em um grande jardim com um número infinito de árvores, mas a árvore do conhecimento se tornou a mais importante e significativo porque estava proibida.
   5) Na realidade, esta proibição se converteu na atração, o convite.
   6) Estavam como magnetizados, hipnotizados pela árvore. Não podiam escapar dela, tiveram que comer.
  7) Esta história é bela, porque a árvore se chama «árvore do conhecimento». No momento em que comeram o fruto do conhecimento , adquiriram conhecimento, e deixaram de ser inocentes.
   8) Tornaram-se conscientes; tiveram consciência de que estavam nus. Imediatamente, Eva tratou de ocultar seu corpo. Com a consciência do corpo se tornaram conscientes de tudo: a ira, a luxúria, a avareza, tudo.
   9) Tornaram-se adultos, assim foram expulsos do jardim. De modo que na Bíblia o conhecimento é pecado. Foram expulsos do jardim, foram castigados, por causa do conhecimento.
   10) A não ser que se voltem de novo como meninos inocentes, sem saber - não podem entrar no jardim. Entrar no Jardim é entrar no reino de Deus.
   11) Só podem voltar a entrar no reino de Deus se cumprirem a condição de tornar-se inocentes de novo.
   12) Todo isso é simplesmente a história da humanidade. Todo menino é expulso do jardim, não só Adão e Eva. Todo menino vive sua infância na inocência, sem saber nada. É puro, mas essa pureza é da ignorância.
   13) Não pode durar. A não ser que se converta em uma pureza da sabedoria, não pode contar com ela. Terá que ir-se; cedo ou tarde terá que comer o fruto do conhecimento.
   14) Cada menino terá que comer o fruto do conhecimento. No Paraíso Terrestre era fácil: havia simplesmente uma árvore com o fruto proibido. Como substituto da árvore nós temos pais, sociedade, escolas, colégios e universidades.
   15) Com cada menino terá que acontecer, terá que deixar de ser inocente, terá que perder sua inocência.
  16) O mundo mesmo necessita de conhecimento, a existência mesma necessita de conhecimento. Não pode existir nela sem conhecimento.
   17) E no momento em que chega o conhecimento, penetra a impureza, a divisão. Começa a dividir entre o que é bom e o que é mau.
   18) Assim é que para o tantra a divisão em bom e mau é a impurezaAntes dela é puro, depois dela é puro; nela é impuro.
   19) Mas o conhecimento é um mal necessário, não te pode escapar dele. Terá que passar por ele; faz parte da vida. Mas não é necessário ficar sempre nele; pode ser transcendido.
  h- A transcendência te faz puro e inocente de novo. Se as divisões perdessem seu significado, se o conhecimento que diferencia entre o bem e o mal deixasse de existir, olharia de novo o mundo de uma atitude inocente.
 i- Jesus disse: «A não ser que lhes tornem como meninos, não podem entrar em meu reino de Deus.» A não ser que lhes tornem como meninos...; 
   1) esta é a pureza do tantra.
 j- Lao Tsé disse: «Um centímetro de divisão, e o céu e o inferno se separam.»
   1) A não divisão é a mente do sábio: nenhuma divisão absolutamente! Um sábio não sabe o que é bom e o que é mau. É como os meninos, mas também diferente a eles, porque conheceu esta divisão. Passou por esta divisão e a há transcendido; foi mais à frente.
   2) Conheceu a escuridão e a luz, mas agora foi mais à frente. Agora vê a escuridão como parte da luz, e a luz como parte da escuridão; agora não há divisão.
   4) A luz e a escuridão se tornaram uma só coisa: graus de um mesmo fenômeno. Agora o vê tudo como graus de uma mesma coisa; independentemente do opostos que sejam, não são dois. Veja: "até as próprias trevas não te serão escuras: as trevas e a luz são a mesma coisa" (Sl 139.12 ).
 l- A vida e a morte, o amor e o ódio, o bom e o mau, tudo é parte de um fenômeno, uma energia. A diferença é só de grau, e nunca se podem dividir. 
  1) Não se pode demarcar, determinar que «a partir deste ponto há divisão». Não há divisão.
   2) O que é bom? O que é mau? Desde onde pode defini-los e demarcá-los como separados? São sempre um. São só graus diferentes da mesma coisa.
   3) Uma vez que se sabe e se sente isto, sua mente se torna pura de novo. Esta é a pureza a que se refere o tantra. Assim é que definirei a pureza tântrica como inocência, não como o que é bom.
  4) Mas a inocência pode ser ignorante: então é inútil. Tem que ser perdida, tem que ser expulso dela; de outra forma, não pode maturar.
   5) Adquirir o conhecimento e transcender o conhecimento faz parte do processo de maturação, faz parte de ser realmente adulto. Assim passa por ele, mas não fica nele.
   6) Segue avançando! Chega um dia em que está além dele. É por isso que a pureza tântrica é difícil de compreender e pode ser mal-entendida. É delicada!
  7) De modo que reconhecer a um sábio tântrico é virtualmente impossível. Os Santos e sábios normalmente podem ser reconhecidos porque lhes seguem: seus padrões, suas definições, sua moralidade.
  8) Um sábio tântrico é inclusive difícil de reconhecer porque transcende todas as divisões.
  9) Assim, na realidade, em toda a história do crescimento humano não sabemos nada sobre os sábios tântricos.
  10) Não se menciona ou se registra nada sobre eles porque é muito difícil conhecê-los.
  l- Confúcio (Confúcio,  foi um pensador e filósofo chinês do Período das Primaveras e Outonos. A filosofia de Confúcio sublinhava uma moralidade pessoal e governamental, os procedimentos corretos nas relações sociais, a justiça e a sinceridade. Do 28/09 de 551 aC. a 11/05 de 479 aC.) veio ao Lao Tsé. A mente do Lao Tsé é a de um sábio tantricamente acordado. (Lao-Tsé foi um importante filósofo da China antiga. Conhecido como o autor do "Tao Te Ching", a obra basilar da filosofia taoísta. Viveu no VI século aC).
   1) Nunca conheceu a palavra «tantra»; a palavra não tem sentido para ele. Nunca soube nada sobre o tantra, mas tudo o que ele disse é tantra.   
 2) Confúcio é representativo de nossa mente, é representativo por antonomásia (Quando designamos uma pessoa pelos seus atributos ou por referências a circunstâncias em que se envolveu, estamos fazendo uso da antonomásia. Essa figura de linguagem é muito utilizada nos textos escritos e falados). No ponto de vista da dualidade.
   3) Confúcio pensava continuamente do ponto de vista do bom e o mau, ou o que se deveria fazer e o que não se deveria fazer. Era um legalista: o maior legalista jamais nascido. Foi ver o Lao Tsé, e perguntou ao Lao Tsé: «O que é bom? O que se deveria fazer? O que é mau? Define-o claramente.»
  4) Lao Tsé disse: «As definições criam uma confusão, porque definir significa dividir: isto é isto, e isso é isso.» Divide e diz que A é A e B é B... dividiste. Diz que A não pode ser B; então criaste uma divisão, uma dicotomia, e a existência é uma. A está sempre voltando-se B, A está sempre se movendo por volta do B. A vida está sempre voltando a morte, a vida está sempre movendo-se para a morte, assim que como pode definir? A infância está movendo-se para a juventude e a juventude está movendo-se para a velhice; a saúde está movendo-se para a enfermidade e a enfermidade está movendo-se para a saúde. Assim  onde as pode demarcar como separadas?
   5) A vida é um movimento, e no momento em que define provoca um barulho, porque as definições estarão mortas, e a vida é um movimento vivo. De modo que as definições sempre são falsas.
   6) Lao Tsé disse: «Definir cria não-verdade, assim não defina. Não diga o que é bom e o que é mau  
   7) Assim Confucio ficou confuso e disse: «O que está dizendo? Então como pode a gente ser dirigida e guiada? Então como lhes pode ensinar? Como lhes pode fazer morais e bons?»
   8) Lao Tsé disse: «Quando alguém trata de fazer o que não é bom a outro, isso é um pecado para mim. Quem é você para dirigir? Quem é você para guiar? E quantos mais guia, há mais confusão. Deixa a outros em paz. Quem é você?» Este tipo de atitude parece perigosa; e o é! A sociedade não pode apoiar-se em semelhantes atitudes.
   9) Confúcio segue perguntando, e toda a questão é que Lao Tsé diz: «A natureza é suficiente; não é necessária nenhuma moralidade. A natureza é espontânea. A natureza é suficiente; não são necessárias leis e disciplinas impostas. A inocência é suficiente; não é necessária nenhuma moralidade. A natureza é espontânea, a natureza é suficiente. Não são necessárias leis impostas e disciplinas. A inocência é suficiente. Não é necessário o conhecimento.»
   10) Confúcio voltou muito perturbado. Não pôde dormir durante noites. E seus discípulos lhe perguntaram: «nos conte algo sobre o encontro. O que aconteceu?»
   11) Confúcio respondeu: «Ele não é um homem; é um perigo, um dragão. Não é um homem. Nunca vão ao lugar onde está. Quando ouvirem falar do Lao Tsé, fujam desse lugar. Ele perturbará completamente sua mente.»
   12) E isso é certo, porque todo o tantra se ocupa de como transcender a mente. Está pronto a destruir a mente.
   13) A mente vive com definições, leis e disciplinas; a mente é uma ordem. Mas recorda: o tantra não é desordem, e esse é um ponto muito sutil que terá que compreender.
   14) Confúcio não pôde entender ao Lao Tsé. Quando Confúcio se foi, Lao Tsé se esteve rindo e rindo, assim que seus discípulos lhe perguntaram: «por que te ri tanto? O que aconteceu?» Conta-se que Lao Tsé disse: «A mente é grande barreira para a compreensão... Inclusive a mente de um Confúcio é uma barreira. Não pôde me compreender absolutamente, e tudo o que diga sobre mim será um mal-entendido.
   15) Ele pensa que vai criar ordem no mundo. Não se pode criar ordem no mundo. A ordem é inerente a ele; sempre está aí. Quando tenta criar ordem, cria desordem.»
  16) Lao Tsé disse: «Pensará que estou criando desordem, quando na realidade é ele quem está criando desordem. Eu sou contra todos as ordens impostos porque acredito em uma disciplina espontânea que chega e cresce automaticamente. Não precisa impô-la.»
  m- O tantra olha às coisas dessa maneira. Para o tantra, inocência é espontaneidade, sahajata: ser a gente mesmo sem nenhuma imposição, ser simplesmente a gente mesmo, crescendo como uma árvore.
   1) Não é árvore de seu jardim, a não ser a árvore de seu bosque, crescendo espontaneamente; sem ser guiado, porque toda guia é uma má guia. Para o tantra, todo guia é um mau guia. Sem ser guiado, sem ser protegido, sem ser dirigido, sem ser motivado, a não ser simplesmente crescendo.
   2) A lei interna é suficiente; não é necessária nenhuma outra lei. E se necessitar alguma outra lei, isso só mostra que não conhece a lei interna, que perdeste o contato com ela.
   3) Assim que o autêntico não é imposto. O autêntico é recuperar de novo o equilíbrio, ir de novo ao centro, voltar de novo para casa para que obtenha a verdadeira lei interna.
   4) Mas para a moralidade, para as religiões - denominadas  religiões -, a ordem tem que ser imposto, o bem tem que ser imposto de acima, desde fora.
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   5) As religiões, os ensinos morais, os sacerdotes, todos eles lhe consideram algo inerentemente mau: recorda isto. Não acreditam na bondade do homem; não acreditam em nenhuma bondade interna. Acreditam que é mau, que a não ser que o ensine a ser bom, não pode ser bom; a não ser que se force a bondade da parte de fora, não há nenhuma possibilidade de que saia de dentro.
   6) Assim é que para os sacerdotes, para a gente religiosa, para os moralistas, é naturalmente mau. A bondade vai ser uma disciplina imposta desde fora.
   7) É um caos e eles têm que trazer a ordem; eles trarão a ordem. E converteram o mundo inteiro em um embrulho, uma confusão, um manicômio, porque estiveram ordenando durante séculos e séculos, disciplinando durante séculos e séculos. Ensinaram tanto que os acostumados se tornaram loucos. O tantra acredita em sua bondade interna; recorda esta diferença.
   8) O tantra diz que todo mundo nasce bom, que a bondade é sua natureza. É certo! Já é bom! Necessita de um crescimento natural, não necessita de nenhuma imposição; por isso nada se considera mau.
   9) Se surgir a ira, se surgir o sexo, se surgir a avareza, o tantra diz que também são bons.
   10) A única falta é que não está centrado em ti mesmo; por isso não pode usá-los. A ira não é má, na realidade, o problema é que não está dentro; por isso a ira cria estragos. Se estiver presente dentro, a ira se torna energia sã, a ira se torna-se saúde. A ira é transformada em energia, torna-se boa. Tudo o que há é bom.
   11) O tantra acredita na bondade inerente de tudo. Tudo é sagrado, nada é profano e nada é mau. Para o tantra não há diabo, só existência divina.
   12) As religiões não podem existir sem o diabo. Necessitam de um Deus e necessitam também de um diabo. Assim não te confunda se só vê Deus em seus templos.
   13) Justo detrás de Deus se oculta o diabo, porque nenhuma religião pode existir sem o diabo. Algo tem que ser condenado, algo tem que ser combatido, algo tem que ser destruído.
   14) A totalidade não se aceita, só a parte. Isto é muito básico. Não é aceito totalmente por nenhuma religião, só parcialmente. As religiões dizem: «Aceitamos seu amor, mas não seu ódio. Destrói o ódio.»
   15) E isto é um problema muito profundo, porque quando destrói o ódio completamente, o amor também é destruído: porque não são dois.
   16) As religiões dizem: «Aceitamos seu silêncio, mas não aceitamos sua ira.» Destrói a ira, e sua vitalidade será destruída.
   17) Então será silencioso, mas não será um homem vivo: tão somente um homem morto. Esse silêncio não é vida, é só morte. As religiões sempre lhe dividem em dois: o mau e o divino. Aceitam o divino e estão contra do mal: o mal tem que ser destruído.
   18) De modo que se alguém as segue realmente, chegará à conclusão de que no momento em que destrói ao diabo, Deus é destruído. Mas ninguém as segue realmente: ninguém as pode seguir, porque o ensino é mesmo absurdo.
   19) Assim é o que está fazendo todo mundo? Todos estão simplesmente simulando. Por isso há tanta hipocrisia. Essa hipocrisia foi criada pela religião.
   20) Não pode fazer o que estão ensinando, assim que se torna hipócrita. Se lhes seguir, morrerá; se não lhes seguir, se sentirá culpado de que é irreligioso. Assim o que fazer?
   21) A ardilosa mente faz um arranjo. Mostra-se conforme de boquilha (peça de instrumento de assopro), dizendo: «Estou lhes seguindo», mas segue fazendo tudo o que quer fazer.
   22) Continua com sua ira, continua com seu sexo, continua com sua avareza, mas segue dizendo que a avareza é má, que a ira é má, que o sexo é mau: que é pecado. Isto é hipocrisia.
   23) O mundo inteiro se tornou hipócrita, ninguém é honesto. A não ser que desapareçam estas religiões divisórias, ninguém pode ser honesto.
   24) Isto parecerá contraditório, porque todas as religiões estão pregando que terá de ser honesto, mas são as primeiras pedras de toda desonestidade.
   25) Eles os fazem desonestos; quando lhes pregam coisas impossíveis, que não podem fazer, tornam-lhes hipócritas.
  n- O tantra te aceita em sua totalidade, em sua integridade, porque o tantra diz: aceita totalmente ou rechaça totalmente; não há nada entre meios. Um homem é uma totalidade, uma totalidade orgânica. Não pode dividi-lo. Não pode dizer: «Não aceitaremos isto», porque o que rechaças está organicamente unida ao que aceita.
   1) É desta maneira... Aqui está meu corpo. Chega alguém e diz: «Aceitamos sua circulação sanguínea, mas não aceitamos o ruído de seu coração. Este contínuo pulsar de seu coração não o aceitamos. Aceitamos sua circulação sanguínea.
   2) Está bem, é silenciosa.» Mas minha circulação sanguínea é através de meu coração, e o pulsar está basicamente relacionado com a circulação do sangue; acontece por causa dela. Assim o que posso fazer? Meu coração e minha circulação sanguínea são uma unidade orgânica.
   3) Não são duas coisas, são uma. Assim ou me aceite totalmente ou me rechace totalmente, mas não trate de me dividir, porque então criará uma desonestidade, uma profunda desonestidade.
   4) Se segue condenando o batimento do meu coração, então também eu começarei a condenar o batimento do meu coração. Mas o sangue não poderá circular, e não posso estar vivo sem isso. Assim o que fazer?
   5) Segue sendo como é, e segue dizendo todo o tempo outra coisa que não é, que não pode ser. Não é difícil ver como estão relacionados o coração e a circulação sanguínea, mas é difícil ver como estão relacionados o amor e o ódio. São um.
   6) Quando ama a alguém, o que está fazendo? É um movimento, como a respiração saindo. Quando ama a alguém, o que está fazendo? Vais encontrar-te com ele; é uma respiração que sai. Quando odeia a alguém, é uma respiração que volta a entrar.
   7) Quando ama, atraí alguém. Quando odeia, é repelido. A atração e a repulsão são duas ondas de um movimento. A atração e a repulsão não são duas coisas; não pode as dividir.
   8) Não pode dizer: «Pode inspirar mas não pode exalar, ou pode exalar mas não pode inspirar. Só te permite fazer uma coisa. Ou segue exalando ou segue inspirando, mas não as duas coisas.» Como vais inspirar se não te permite exalar?
   9) E se não te permite odiar, não pode amar.
   10) O tantra diz: «Aceitamos ao homem inteiro, porque o homem é uma unidade orgânica.» O homem é uma profunda unidade; não pode descartar nada.
   11) E é assim como deveria ser; porque se o homem não é uma unidade orgânica, então neste universo nada pode ser uma unidade orgânica. O homem é o ponto culminante da totalidade orgânica. A pedra atirada na rua é uma unidade. A árvore é uma unidade. A flor e o pássaro são unidades. Tudo é uma unidade, assim por que não o homem?
  12) E o homem é o ponto culminante: uma grande unidade, uma totalidade orgânica muito complexa. Na realidade, não pode recusar nada.
   13) O tantra diz: «Aceitamo-lhe tal como é. Isso não significa que não haja necessidade de mudança; isso não significa que agora tenha que deixar de crescer.
  14) Pois bem, pelo contrário, significa que aceitamos a base do crescimento.» Agora pode crescer, mas este crescimento não vai ser uma escolha. Este crescimento vai ser um crescimento sem escolha.
   15) Olhe! Por exemplo, quando uma pessoa se ilumina podemos perguntar: «Aonde foi sua ira? Aonde? Tinha ira, tinha sexo, assim que aonde foi seu sexo? Aonde se foi sua ira? Onde esta sua avareza?» Agora não podemos reconhecer nada de ira nele.
   16) Quando está iluminado não podemos reconhecer nada de ira nele.
   17) Pode reconhecer o barro no lótus? O lótus vem do barro. Se alguém viu um lótus crescendo no barro e lhe trazem uma flor de lótus, pode conceber que esta bela flor de lótus tenha saído do barro corrente de um lago?
   18) Este belo lótus saindo do feio barro! Pode reconhecer o barro em alguma parte dele? Está aí, mas transformado. Sua fragrância procede desse mesmo barro feio. A cor rosada das pétalas vem do mesmo barro feio. 
  19) Se ocultas esta flor de lótus no barro, em uns poucos dias desaparecerá de novo em sua mãe. Então será incapaz de novo de reconhecer aonde se foi o lótus. Aonde? Onde está a fragrância? Onde estão essas pétalas tão formosas?
   20) Não se pode reconhecer a ti mesmo no iluminado, mas você está aí; é obvio, em um plano maior e mais elevado, transformado. O sexo está aí, a ira está aí, o ódio está aí. Todo o pertencente ao homem está aí.
   21) O Iluminado é um homem, mas chegou a seu crescimento supremo. Converteu-se em uma flor de lótus; não pode reconhecer o barro, mas isso não significa que o barro não esteja aí. Está aí, mas não como barro. É uma unidade mais elevada.
   22) É por isso que no Iluminado não pode sentir nem ódio nem amor. Isso é ainda mais difícil de compreender, porque o Iluminado parece totalmente amoroso: sem odiar nunca, sempre em silêncio, nunca zangado. Mas seu silêncio é diferente de teu silêncio. Não pode ser o mesmo. O que é seu silêncio?
   23) Einstein disse em alguma parte que nossa paz não é mais que uma preparação para a guerra. Entre duas guerras temos um intervalo de paz, mas essa paz não é realmente paz. É só o intervalo entre duas guerras, de modo que se torna uma guerra fria. Portanto, temos dois tipos de guerra: quente e fria. Depois da segunda guerra mundial, Rússia e Estados Unidos começaram uma guerra fria. Não estavam em paz: tão somente em preparação de outra guerra. Estão-se preparando.
   24) Toda guerra perturba, destrói. Tem que te preparar outra vez, assim necessita de um lapso, um intervalo. Mas se na realidade as guerras desaparecem completamente deste mundo, então este tipo de paz que significa guerra fria também desaparecerá, porque acontece sempre entre duas guerras.
   25) Se as guerras desaparecerem completamente, esta guerra fria que chamamos paz não pode continuar. O que é seu silêncio? Tão somente uma preparação entre duas iras.
   26) O que passa quando parece estar em calma? Está realmente  em calma, ou está simplesmente te preparando para outro arrebatamento, para outra explosão?
   27) A ira é um esbanjamento de sua energia, assim também necessita de tempo. Quando te enfurece, não te pode voltar a enfurecer imediatamente. Quando entra no ato sexual, não pode voltar a entrar imediatamente. Necessitará de tempo, assim necessitará de um período de brahmacharya (celibato) durante ao menos dois ou três dias. Dependerá de sua idade. Este celibato não é realmente celibato, está tão somente te preparando de novo.
  28) Entre dois atos sexuais não pode haver brahmacharya. Segue chamando jejum ao período entre duas comidas. Por isso pela manhã «toma o café da manhã», mas onde está o jejum? Tão somente te estava preparando. Não pode seguir te colocando comida continuamente, tem que ter um intervalo, mas esse intervalo não é um jejum.
   29) Na realidade, é só uma preparação para outra comida, não um jejum.
   30) De modo que quando está em silêncio, é sempre entre duas iras. Quando está em calma, é sempre entre dois ápices de tensão. Quando é celibatário, é só entre dois atos sexuais. Quando está amando, é sempre entre >>>>> dois ódios: recorda isto.
   31) Assim é que se um Iluminado estiver em silêncio, não pense que esse é seu silêncio. Quando sua ira desapareceu, seu silêncio também desapareceu. Ambos existem juntos; não se podem separar. De modo que quando é um brahmachari - um celibatário -, não pense que esse é seu celibato. Quando o sexo desapareceu, brahmacharya também desapareceu. Ambos formavam parte de uma coisa, assim ambos desapareceram.
   32) Com um Iluminado há um ser tão diferente que não pode concebê-lo. Só pode conceber a dicotomia que conhece. Não pode conceber o tipo de homem que é, o que lhe aconteceu. Toda a energia chegou a um nível diferente, um plano diferente de existência.
   33) O barro se converteu em um lótus, mas ainda segue aí. O barro não foi excluído do lótus; foi transformado.
  o- De modo que todas as energias que há dentro de ti são aceitas pelo tantra.
   1) O tantra não está a favor de excluir nada absolutamente, mas sim da transformação. E o tantra diz que o primeiro passo é aceitar. O primeiro passo é muito difícil: aceitar.
   2) Pode ser que te esteja enfurecendo muitas vezes cada dia, mas aceitar sua ira é muito difícil. Estar zangado é muito fácil; aceitar sua ira é muito difícil. Por que?
   3) Não sente tanta dificuldade em estar zangado, assim por que sente tanta dificuldade em aceitá-lo? Enfurecer-se não parece tão mau como aceitá-lo.
   4) Todo mundo pensa que é uma boa pessoa e que a ira é só momentânea, vem e vai. Não destrói seu auto imagem. Segue sendo bom. Diz que «simplesmente aconteceu». Não é destrutivo para seu ego. De modo que os que são ardilosos se arrependerão imediatamente.
   5) Se enfurecerão e se arrependerão, pedirão perdão. Estes são os ardilosos. Por que os chamo ardilosos? Porque sua ira faz tremer sua auto imagem. Começam a sentir-se inquietos. Começam a sentir: «Enfureço-me? Sou tão mau que me enfureço?»
   6) De modo que a imagem de boa pessoa treme. Tem que tentar assentá-la de novo. Imediatamente diz: «Isto está mau. Não voltarei a fazê-lo. Me perdoe.» Pedindo perdão, seu auto imagem se assenta de novo. Bom: de volta a seu estado prévio quando não havia ira. Cancelou sua ira pedindo perdão. Chamou-se mau a si mesmo simplesmente para seguir sendo bom.
   7) É por isso que durante vidas inteiras pode seguir estando zangado, sendo sexual, sendo possessivo, sendo isto e aquilo, mas nunca aceitando.
   8) Este é um truque da mente. Tudo o que faz está só na periferia. No centro, segue sendo bom. Se aceitar que «tenho ira», no centro te tornas mau. Então não é só uma questão de zangar-se, então não é momentâneo.
   9) Mas bem, a ira é então parte de sua constituição. Então não é que alguém te irrite e te zangue. Inclusive se estiver sozinho, a ira está aí. Quando não te está zangando, a ira ainda segue aí, porque a ira é sua energia, faz parte de ti. Não é que às vezes cintile e logo se extinga, não! Não pode cintilar se não estar sempre presente.
   10) Pode apagar esta luz, pode acender esta luz; mas a corrente deve permanecer aí continuamente. Se a corrente não estiver aí, não pode acendê-la e apagá-la. A corrente, a corrente da ira, sempre está aí; a corrente do sexo sempre está aí, a corrente da avareza sempre está aí. Pode acendê-la, pode apagá-la. Muda com as situações, mas internamente continua sendo o mesmo. Aceitar significa que a ira não é um ato.
   11) Mas bem, você é ira. O sexo não é simplesmente um ato; você é sexo. A avareza não é simplesmente um ato; você é avareza. Aceitar isto significa desprezar a auto imagem.
  12) E todos construímos belas imagens de nós mesmos. Todo mundo construiu uma bela imagem de si mesmo: absolutamente bela. E algo que faça nunca a afeta, segue protegendo-a.
   13) A imagem é protegida, sente-se muito bem. Por isso te pode enfurecer, pode se tornar sexual, e não está turbado. Mas se aceitar e dizer: «Sou sexo, sou ira, sou avareza», então sua auto imagem se desmorona imediatamente.
  p- O tantra diz que este é o primeiro passo, e o mais difícil: aceitar tudo o que é. Às vezes, tratamos de aceitar, mas sempre que aceitamos o fazemos de novo de uma forma muito calculada. Nossa astúcia é profunda e sutil, e a mente tem formas muito sutis de enganar.
   1) Às vezes aceita e diz: «Sim, estou zangado.» Mas se o aceita, só o aceita quando pensa em como transcender a ira. Então aceita e diz: «Muito bem, estou zangado. Agora me diga como ir além disso.» Só aceita o sexo para não ser sexual.
   2) Sempre que está tratando de fazer outra coisa, é capaz de aceitar, porque sua auto imagem se mantém de novo para o futuro. É violento e trata de ser não-violento; assim aceita e diz: «Muito bem, sou violento. Hoje sou violento; mas, entretanto, amanhã serei não-violento.» Como te tornará não-violento?
   3) Pospor esta auto imagem ao futuro. Não pensa sobre ti mesmo no presente. Pensa sempre do ponto de vista do ideal: da não-violência, o amor e a compaixão.
   4) Então está no futuro. Este presente existe simplesmente para tornar um passado; seu eu autêntico está no futuro, assim segue te identificando com ideais. Esses ideais são também formas de não aceitar a realidade.
   5) É violento: essa é a realidade. E o presente é único que é existencial; o futuro não o é. Seus ideais são tão somente sonhos. São truques para pospor a mente, para enfocar a mente em outra parte.
   6) É violento; esta é a realidade, assim aceita-o. E não trate de ser não-violento. Uma mente violenta não pode tornar-se não-violenta.
   7) Como é possível? Considera-o com profundidade. É violento, assim  como vais ser não-violento? Algo que faça será feita pela mente violenta: algo! Inclusive enquanto esteja tentando ser não-violento, o esforço o estará fazendo a mente violenta. É violento, assim inclusive tentar ser não-violento será violento. No esforço mesmo por ser não-violento, praticará todo tipo de violência.
   8) Por isso vai aos que lutam pela não-violência. Pode ser que eles não sejam violentos com outros, mas o são consigo mesmos. São muito violentos consigo mesmos: estão-se matando a si mesmos. E quanto mais se enfurecem consigo mesmos, mais célebres são. Quando se tornam completamente loucos, suicidas, então a sociedade diz: «Estes são os sábios.» Mas só transformaram o objeto da violência, nada mais.
   9) Eram violentos com alguma outra pessoa, agora são violentos consigo mesmos: mas a violência segue aí. E quando é violento com outra pessoa, a lei pode proteger, os tribunais podem ajudar, a sociedade te condenará.
   10) Mas quando é violento contra ti mesmo, não há lei. Nenhuma lei te pode proteger contra ti mesmo. Quando o homem está contra si mesmo não há amparo, não se pode fazer nada. E a ninguém importa, porque é teu assunto.
   11) Ninguém mais está envolto nisso: é teu assunto. Denominados monges, denominados Santos, são violentos contra si mesmos. A ninguém interessa. Dizem: «Muito bem! Segue fazendo-o. É teu assunto.»
   12) Se sua mente for avarenta, como vais ser não-avaro? A mente avara continuará sendo avara. Algo que faça para ir além da avareza não ajudará.
   13) É obvio, podemos criar novas avarezas. Pergunta a uma mente avarenta: «O que está fazendo acumulando simplesmente riquezas? Morrerá e não te pode levar suas riquezas contigo.»
   14) Esta é a lógica dos denominados pregadores religiosos: que não se pode levar suas riquezas consigo. Mas se alguém pudesse levar-lhe toda a lógica se viria abaixo.
   15) A pessoa avarenta percebe a lógica, é obvio. Pergunta: «Como posso levar minha riqueza comigo?» Mas quer levar-lhe verdadeiramente. Por isso o sacerdote se torna influente. O sacerdote lhe mostra que é uma tolice acumular coisas que não se podem levar além da morte.
   16) Diz-lhe: «Eu te ensinarei a acumular coisas que, sim, se pode levar. A virtude se pode levar, ponha-as nas boas obras - pode-se levar, a bondade se pode levar, mas não a riqueza. Assim doa a riqueza.»
   17) Mas isto é uma apelação a sua avareza. Isto quer dizer: «Agora lhe daremos coisas melhores que se podem levar além da morte.» A apelação obtém resultados.
   18) A pessoa avarenta sente: «Tem razão. A morte existe e não se pode fazer nada a respeito, assim devo fazer algo que, sim, se possa levar a mais à frente. Devo criar algum tipo de saldo bancário também no outro mundo. Neste mundo, este saldo bancário, não pode estar comigo para sempre.» Segue falando nestes términos.
   19) Examina as Escrituras..., apelam a sua avareza. Dizem: «O que está fazendo perdendo o tempo em prazeres momentâneos?» A ênfase recai em «momentâneos». Assim encontra prazeres eternos; então está bem.
   20) Não estão contra os prazeres, estão simplesmente contra que sejam momentâneos. Observa a avareza! Às vezes acontece que pode ser que encontre uma pessoa não avarenta que está desfrutando de prazeres momentâneos, mas entre seu Santos não pode encontrar um que não esteja pedindo, exigindo, prazeres eternos.
   21) Neles a avareza é ainda maior. Pode encontrar uma pessoa não avarenta entre as pessoas normais, mas não pode encontrar uma pessoa não avarenta entre os denominados Santos.
   22) Eles também querem prazeres, mas são mais avarentos que você. Você te contenta com prazeres momentâneos, e eles não. Sua avareza é maior. Sua avareza só pode contentar-se com prazeres eternos. A avareza infinita pede prazeres infinitos; recorda isto.
   23) Uma avareza finita se contenta com o prazer finito. Eles lhe perguntarão: «O que está fazendo amando a uma mulher? Ela não é mais que ossos e sangue. Considera com atenção à mulher que amas. O que é?» Não estão contra a mulher; estão contra os ossos, contra o sangue, e contra o corpo. Mas se a mulher é de ouro, então está bem. Estão pedindo mulheres de ouro.
   24) Não estão neste mundo, assim criam outro mundo. Dizem: «No céu há donzelas de ouro – apsaras - Apsarás (em sânscrito: ; transl.: apsarā) ou Apsarasas são os espíritos femininos das nuvens e das águas na mitologia Hindu e Budista...) que são formosas e que nunca envelhecem.»
   25) No céu hindu, as apsaras, as garotas celestiais, permanecem sempre com dezesseis anos. Nunca envelhecem, sempre têm dezesseis anos: nunca mais e nunca menos.
   26) Assim que o que está fazendo perdendo o tempo nestas mulheres normais? Pensa no céu. Não estão realmente contra o prazer. Na realidade, estão contra o prazer momentâneo.
   27) Se, por algum capricho, Deus outorga a este mundo o prazer eterno, todo o edifício da religião se virá abaixo imediatamente; todo o atrativo se perdeu. Se de alguma forma os saldos bancários se podem levar além da morte, ninguém estará interessado em criar saldos bancários no outro mundo. Assim é que a morte é uma grande ajuda para os sacerdotes. Um homem avaro sempre é atraído por outra avareza.
   28) Se lhe disser e lhe convencer de que sua avareza é a causa de sua má sorte, e que se deixar a avareza alcançará um estado de sorte, pode ser que  o tente: porque agora já não está realmente contra sua avareza. Está-lhe dando novos pastos a sua avareza. Pode entrar em novas dimensões de avareza.
   29) Assim que o tantra diz que uma mente avarenta não pode tornar-se não-avarenta, uma mente violenta não pode tornar-se não-violenta.
   30) Mas isto parece irremediável. Se isto for assim, então não se pode fazer nada. Então o que defende o tantra?
   31) Se uma mente avara não se pode se tornar não-avara, e uma mente violenta não se pode se tornar não-violenta, e uma mente obcecada pelo sexo não pode transformar-se acima do sexo, se não se pode fazer nada, o que defende o tantra?. O tantra não está dizendo que não se possa fazer nada. Pode-se fazer algo, mas a dimensão é completamente diferente.
   32) Uma mente avarenta tem que compreender que é avarenta e aceitá-la: não tratar de ser não avarenta. A mente avarenta tem que aprofundar em si mesma para reconhecer a profundidade de sua avareza. Não afastando-se dela, a não ser permanecendo com ela; não entrando em ideais - em ideais contraditórios, em ideais opostos -, a não ser permanecendo no presente, entrando na avareza, conhecendo a avareza, compreendendo a avareza, e não tratando de escapar dela de maneira nenhuma.
   33) Se pode permanecer com sua avareza, acontecerão muitas coisas. Se pode permanecer com sua avareza, com seu sexo, com sua ira, seu ego se dissolverá. Isto será o primeiro, e que grande milagre é!
   34) Muita gente vem a mim e segue me perguntando como não ter ego. Não pode não ter ego a não ser que olhe os fundamentos de seu ego para encontrá-lo.
   35) O avarento  pensa que não é avarento: isto é o ego. Se for avarento, sabe e aceita totalmente que é avarento, então onde pode deixar que se mantenha seu ego?
   36) Se está zangado e diz que está zangado - não o diz a outros, mas o adverte muito dentro de ti, sente a impotência - então onde se pode manter sua ira?
   37) Se for sexual, aceita-o. Algo que haja em ti, aceita-a. A não-aceitação da natureza cria o ego, a não-aceitação de sua essência, sua realidade, o que é. Se o aceitar, o ego não existirá.
   38) Se não o aceitar, se o rechaçar, se criar ideais contra isso, haverá ego. Os ideais são a matéria da que gera o ego. Te aceite a ti mesmo. Mas então parecerá um animal.
   39) Não parecerá um homem, porque seu conceito do homem está em seus ideais. Por isso seguimos ensinando a outros a não ser como animais, e todo mundo é um animal. O que pode fazer?
   40) É um animal. Aceita sua animalidade. E no momento em que aceita sua animalidade, fez o primeiro passo para ir além dos animais: porque nenhum animal sabe que é um animal; só o homem pode sabê-lo. Isso é ir mais à frente. Negando, não pode ir mais à frente. Aceita!
   41) Quando tudo estiver aceito, de repente notará que há transcendido. Quem está aceitando? Quem aceita a totalidade? O que aceita foi mais à frente. Se rechaças, permanece no mesmo plano. Se aceitar, vai mais à frente.
   42) Aceitação é transcendênciaE se te aceita totalmente a ti mesmo, de repente é arrojado a seu centro.
   43) Então não te pode mover a nenhuma parte. Não pode sair de sua essência, de sua natureza, assim é arrojado a seu centro.
   45) Todas estas técnicas tântricas que estamos expondo e tratando de compreender são maneiras diferentes de te jogar em seu centro, de te tirar da periferia. E você está tratando de escapar do centro de muitas maneiras.
   46) Os ideais são bons escapamentos. Os idealistas são os mais sutis dos egoístas. Acontecem muitas coisas... É violento e cria um ideal de não-violência. Então necessita não entrar em si mesmo, em sua violência; não é necessário.
  q- Então esta é a única necessidade: seguir pensando na não-violência, lendo sobre a não-violência, e tratando de praticar a não-violência. Diz a si mesmo: «Não toque a violência», e é violento.
   1) Assim que te pode escapar de ti mesmo, pode-te ir à periferia, mas então nunca chegará ao centro. Isso é o primeiro passo. Em segundo lugar, quando cria o ideal da não-violência, pode condenar a outros. Agora é muito fácil. Tem o ideal com o que julgar a todo mundo, e pode lhe dizer a todo mundo: «É violento.»
   2) A Índia criou muitos ideais; é por isso que a Índia segue condenando continuamente ao mundo inteiro. Toda a mente da Índia é condenatória. Segue condenando ao mundo inteiro; todos outros são violentos, só a Índia é não violenta. Ninguém parece ser não-violento aqui, mas o ideal é bom para condenar a outros. Nunca se muda, mas pode condenar a outros porque você tem o ideal, o critério. E quando você é violento, pode-o racionalizar: sua violência é algo inteiramente diferente. Estes últimos vinte e cinco anos vimos muitas coisas violentas, mas nunca condenamos nossa violência.
   3) Sempre a defendemos e racionalizamos com belas palavras. Se formos violentos em Rojão de luzes, no Bangladesh, então dizemos que é para ajudar a que a gente obtenha a liberdade ali.
   4) Se formos violentos em Cachemira, é para ajudar às cachemiras. Mas já sabe, todos os militaristas dizem o mesmo. Se a América for violenta no Vietnam, é por «essa pobre gente.» Ninguém é violento para si mesmo; ninguém o foi nunca.
   5) Sempre somos violentos para ajudar a alguém. Inclusive se lhe Mato, é por seu próprio bem, é para te ajudar. E inclusive se acabar morto, inclusive se lhe Mato, observa minha compaixão... Inclusive te posso matar por seu próprio bem.
   6) Assim segue condenando ao mundo inteiro. Quando a Índia atacou Goa, quando a Índia entrou em guerra com a China, Bertrand Russell criticou ao Nehru, dizendo: «Onde está sua não-violência agora? São todos seguidores do Gandhi. Onde está sua não-violência agora?» Nehru respondeu proibindo o livro do Bertrand Russell na Índia.
   7) O livro que Russell escreveu foi proibido. Esta é nossa mente não-violenta. Este era um bom debate. O livro deveria ter sido distribuído grátis, porque argumentava magnificamente.
   8) Dizia: «São um povo violento. Sua não-violência era simplesmente política. Seu Gandhi não era um sábio, era tão somente uma mente diplomática. E todos falam da não-violência, mas quando chega o momento lhes tornam violentos.
   9) Quando outros estão lutando, lhes põem sobre seu elevado altar e condenam ao mundo inteiro por violência.»
   10) Isto acontece com os indivíduos, com as sociedades, com as culturas, com as nações. Se tiver ideais, não precisa te transformar a si mesmo. Sempre pode confiar em que será transformado no futuro pelos próprios ideais, e pode condenar a outros muito facilmente.
   11) O tantra diz que permaneça contigo mesmo. Seja o que seja, aceita-o. Não condene a ti mesmo, não condene a outros. A condenação é inútil, as energias não mudam com ela.
   12) O primeiro passo é aceitar. Fica com o fato - isto é muito científico -, fica com o fato da: ira, a avareza e o sexo. E conhece o fato em toda sua realidade. Não o toque simplesmente de acima, da superfície. Conhece o fato em sua totalidade, em toda sua realidade.
   13) Entra nele até as raízes. E, recorda, sempre que pode entrar até as raízes de algo, o transcenda-o. Se pode conhecer sua sexualidade até as mesmo as raízes, volta-te seu amo. Se pode conhecer sua ira até as mesmas raízes, volta-te seu amo.
   14) Então a ira se torna simplesmente instrumental: pode-a usar. Lembrança de muitas coisas sobre o Gurdjieff. Gurdjieff ensinava a seus discípulos a estar enfurecidos normalmente.
   15) Ouvimos falar das palavras de Buda: meditação correta, pensamento correto e contemplação correta.
   16) Ouvimos falar do ensino da Mahavira sobre a visão correta e o conhecimento correto.
   17) Gurdjieff ensinava a ira correta e a avareza correta, e o ensino estava influenciado pela antiga tradição do tantra.
   18) Gurdjieff foi muito condenado no Ocidente, porque no Ocidente ele era o símbolo vivente do tantra. Ele ensinava a ira correta; ele ensinava a estar totalmente zangado.
   19) Se estava zangado, ele te dizia: «Segue. Não o reprima, deixa que saia em sua totalidade. Entra nisso. Te volte a ira. Não te contenha, não jogue a um lado. Entra de um salto profundo nela. Deixa que todo seu corpo se volte uma chama, um fogo.» Você nunca entraste tão profundamente e nunca viu a ninguém fazê-lo, porque todo mundo está mais ou menos culturizado. Ninguém é original; todo mundo está mais ou menos imitando.
   20) Ninguém é original! Se pode entrar totalmente na ira, tornará um fogo, um ardor. O fogo será tão profundo, as chamas serão tão profundas, que tanto o passado como o futuro cessarão imediatamente.
   21) Tornará uma chama presente. E quando cada uma de suas células estiver ardendo, quando todas as partes de seu corpo estiverem em chamas e te tornado tão somente fúria - não furioso -, então Gurdjieff dirá: «Agora seja consciente. Não reprima. Agora seja consciente. Agora de repente seja consciente do que te tornaste, pelo que é a ira.» Neste momento de total presente e presença, a gente pode fazer-se consciente de repente, e pode pôr-se a rir do absurdo de todo o assunto, da tolice, da estupidez de todo o assunto. Mas isto não é repressão; isto é risada. Pode-te rir de ti mesmo porque te há transcendido a ti mesmo.
   22) A ira não voltará a ser capaz de te dominar nunca mais. Conheceste a ira em sua totalidade, e não obstante te pôde rir e ir além dela. Pôde ver desde além de sua ira. Uma vez que viu sua totalidade, sabe o que é a ira.
   23) Assim não há medo. Recorda isto: o que não é conhecido, sempre produz medo. O que é escuro sempre produz medo. Tem medo da sua própria ira.
   24) De modo que a gente segue dizendo que reprima a ira porque não é bom estar enfurecido, pode ser que faça mal a outros.
   25) Mas essa não é a verdadeira causa. A verdadeira causa é que têm medo a sua ira. Se se zangarem realmente, não sabem o que pode acontecer. Têm-se medo de si mesmos. Nunca conheceram a ira.
   26) É algo muito temível, escondido em seu interior, por isso que lhe têm medo. Por isso estão sob o controle da sociedade, da cultura, da educação, e dizem: «Não devemos nos zangar. A ira é má. Faz mal a outros.» Tem medo a sua ira, tem medo a sua sexualidade. Nunca estiveste no sexo totalmente. O primeiro passo é aceitar.
   27) Fica com o fato - isto é muito científico -, fica com o fato da: ira, a avareza e o sexo. E conhece o fato em toda sua realidade. Não o toque simplesmente de acima, da superfície. Conhece o fato em sua totalidade, em toda sua realidade. Entra nele até as raízes.
   28) E, recorda, sempre que pode entrar até as raízes de algo, o transcendes.; sua mente sempre estava aí. E se a mente está aí no ato sexual, então o ato é pseudo, falso. A mente deve dissolver-se, deve te tornar simplesmente corpo. Não deve haver nenhum pensar.
   29) Se está pensando, está dividido. Então o ato sexual não é mais que soltar a energia excessiva. É soltar energia, nada mais. Mas tem medo de estar totalmente no sexo. Por isso está sob o controle da sociedade e diz que o sexo é mau. Tem medo! Por que tem medo?
   30) Porque se entrar totalmente no sexo, não sabe o que pode fazer, não sabe o que pode acontecer, não sabe que força animal pode surgir, não sabe o que pode jogar nisso seu inconsciente. Não sabe! Então não será o amo; não terá o controle. Pode ser que se destrua seu auto imagem. Portanto, controla o ato sexual.
   31) E a forma de controlar é permanecer na mente. Deixa que haja ato sexual, mas local. Trata de compreender este «local» e «geral». O tantra diz que um ato sexual é local quando só está envolto seu centro sexual.
   32) É local; é um soltar da energia local. O centro sexual vai acumulando energia. Quando é excessiva, tem que soltá-la; se não, criará tensões, criará pesadez. A soltas, mas é uma solta local.
   33) Não está envolto todo seu corpo, todo seu ser. A implicação não local, total, significa que cada fibra do corpo, cada célula do corpo, tudo o que é, está nisso. Seu ser inteiro se tornou sexual. Não só seu centro sexual; todo seu ser se tornou sexual.
   34) Mas então tem medo, porque então algo é possível. E não sabe o que pode acontecer, porque nunca conheceste sua totalidade.
   35) Pode que faça certas coisas que não pode conceber: isso produz medo. Precisa manter o controle para não te perder a ti mesmo em algo. Por isso nunca conhecemos nada. E a menos que conheça, não pode transcender. Aceita, aprofunda, entra até mesmo as raízes. Isto é tantra. O tantra advoga por experiências profundas. Algo que se experimentou pode ser transcendida; algo que se reprimiu, nunca pode ser transcendida.

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