8º Estudo - O Caminho do Ioga e o Caminho do Tantra



8º Estudo

O Caminho do Ioga e o Caminho do Tantra
Perguntas:
Que diferença há entre o ioga e o tantra?
No caminho da entrega, como dar com a técnica apropriada?
Como saber se a técnica que se está praticando terá êxito?
Há muitas perguntas:
Pergunta 1 Que diferença há entre o ioga tradicional e o tantra? São o mesmo?
O tantra e o ioga são essencialmente diferentes. Chegam à mesma meta; entretanto, seus caminhos não são só diferentes, mas também contrários. É necessário entender isto muito claramente.
O processo do ioga também é metodologia, o ioga também é técnica. O ioga não é filosofia. Igual ao tantra, o ioga se apoia na ação, o método, a técnica. Fazer conduz a ser também no ioga, mas o processo é diferente. No ioga terá que lutar; é o caminho do guerreiro. No caminho do tantra não terá que lutar em modo algum. Mas bem, pelo contrário, terá que dar-se gosto, mas com consciência.
O ioga é refreamento com consciência; o tantra é complacência com consciência. O tantra diz que faça o que faça, o supremo não é contrário a isso. É um crescimento; pode crescer para ser o supremo. Não há oposição entre você e a realidade. Forma parte dela, assim não é necessária nenhuma luta, nenhum conflito, nenhuma oposição à natureza. Tem que usar a natureza; tem que usar algo que seja para ir mais à frente.
No ioga, tem que lutar contigo mesmo para ir mais à frente. No ioga, o mundo e moksha, a Liberação -você tal como é e você tal como pode ser-, são duas coisas opostas. Refreia, combate, dissolve o que é para poder alcançar o que pode ser. Ir mais à frente é uma morte no ioga. Deve morrer para que seu ser autêntico nasça. (Moksha (sânscrito: liberação) ou Mukti (sânscrito: soltura), refere-se, em termos gerais, à libertação do ciclo do renascimento e da morte e à iluminação espiritual.)
Aos olhos do tantra, o ioga é um suicídio profundo. Deve matar seu ser natural: seu corpo, seus instintos, seus desejos, tudo. O tantra diz que aceite a ti mesmo tal como é. É uma aceitação profunda. Não crie uma fissura entre você e o real, entre o mundo e a Iluminação. Não crie nenhuma fissura. Não há fissuras para o tantra; não é necessária nenhuma morte. Para seu renascimento não é necessária nenhuma morte: mas bem uma transcendência. Para esta transcendência, te use a ti mesmo.
Por exemplo, existe o sexo, a energia básica: a energia básica através da que nasceste, com a que nasceste. As células básicas de seu ser e de seu corpo são sexuais, de maneira que a mente humana gira em torno do sexo. Para o ioga, deve lutar com esta energia. Através da luta, cria um centro diferente em ti mesmo. Quanto mais luta, mais te integra em um centro diferente. Então o sexo não é seu centro. Lutar com o sexo –é obvio, conscientemente- criará em ti um novo centro de ser, uma nova ênfase, uma nova cristalização. Então o sexo não será sua energia. Criará sua energia lutando com o sexo.
Uma energia diferente será criada e um centro diferente de existência. Para o tantra, tem que usar a energia do sexo. Não lute com ela, transforma-a. Não pense em términos de antagonismo, seja afetuoso com ela. É sua energia. Não é má, não é daninha. Toda energia é simplesmente natural. Pode ser usada a seu favor, pode ser usada contra ti. Pode fazer dela um obstáculo, uma barreira, ou pode fazer dela um degrau. Pode ser usada. Usada corretamente, converte-se em sua amiga; usada erroneamente, converte-se em sua inimizade. Mas não é nenhuma das duas coisas. A energia é simplesmente natural. Um homem corrente está utilizando o sexo; este se converte em um inimigo, destrói a esse homem; o homem simplesmente se dissipa no sexo.
O ioga adota a opinião contrária, contrária à mente corrente. A mente corrente está sendo destruída por seus próprios desejos, de modo que o ioga diz que deixe de desejar, que esteja sem desejos. Combate o desejo e cria uma integração em ti sem desejos.
O tantra diz que seja consciente do desejo; que não crie nenhuma luta. Entra no desejo com total consciência, e quando entra no desejo com total consciência, o transcendes. Está nele e, entretanto, não está nele. Passa por ele, mas permanece alheio. O ioga tem muito atrativo porque o ioga é justo o contrário da mente corrente, de maneira que a mente corrente pode entender a linguagem do ioga. Sabe que o sexo te está destruindo: que te destruiu, que segue girando em torno dele como um escravo, como uma marionete. Sabe isto por experiência. De modo que quando o ioga diz que o combata, imediatamente compreende o que diz. Esse é o atrativo, o fácil atrativo do ioga.
O tantra não pode ser tão facilmente atrativo. Parece difícil: como entrar no desejo sem ser afligido por ele? Como estar no ato sexual conscientemente, com total conscientização? A mente corrente se assusta. Parece perigoso. Não é que seja perigoso; algo que sabe sobre o sexo cria este perigo para ti. Conhece-te ti mesmo, sabe como te enganar a ti mesmo. Sabe muito bem que sua mente é ardilosa. Pode entrar no desejo, no sexo, em tudo, e pode te enganar a ti mesmo te dizendo que o está fazendo com completa consciência. Por isso sente o perigo.
O perigo não está no tantra; está em ti. E o atrativo do ioga se deve a ti, deve-se a sua mente corrente, sua mente sexualmente reprimida, faminta de sexo, que sente prazer no sexo. Pelo fato da mente corrente não ser sã com respeito ao sexo, o ioga resulta atrativo. Com uma humanidade melhor, com uma sexualidade sã -natural, normal- as coisas seriam diferentes. Não somos normais e naturais. Somos absolutamente anormais, insalubres, verdadeiramente dementes. Mas como todos são como nós, nunca nos damos conta.
A loucura é tão normal que não estar louco pode parecer anormal. Um Buda é anormal, um Jesus é anormal entre nós. Não formam parte de nós. Esta «normalidade» é uma enfermidade. Esta mente «normal» criou o atrativo do ioga. Se tomar o sexo de modo natural -sem nenhuma filosofia em torno dele, sem nenhuma filosofia a favor ou contra-, se tomar o sexo como toma suas mãos, seus olhos, se for totalmente aceito como algo natural, então o tantra resultará atrativo. E só então pode o tantra ser útil para muita gente.
Mas os dias do tantra se aproximam. Cedo ou tarde, o tantra explorará pela primeira vez entre as massas, porque pela primeira vez chegou o momento, o momento para tomar o sexo de modo natural. É possível que a explosão possa proceder do Ocidente, porque Freud, Jung, Reich prepararam o ambiente. Não sabiam nada sobre tantra, mas criaram o terreno básico para que o tantra se desenvolva. A psicologia ocidental há chegado à conclusão de que a enfermidade humana básica está relacionada com o sexo, a loucura básica do homem está dirigida para o sexo. (Wilhelm Reich (1897-1957) foi um importante psiquiatra e psicanalista austríaco pioneiro no estudo dos fenômenos psicossomáticos. ... Wilhelm Reichnasceu em Dubrozcynica, no antigo Império Austro-Húngaro, hoje, no noroeste da Ucrânia, no dia 24 de março de 1897).
De modo que, a menos que se dissolva esta orientação para o sexo, o homem não pode ser natural, normal. O homem se desencaminhou a causa tão somente de suas atitudes respeito ao sexo. Não é necessária nenhuma atitude. Só então é natural. Que atitude tem respeito a seus olhos? São malignos ou são divinos? Está a favor ou contra seus olhos? Não há nenhuma atitude! Por isso seus olhos são normais.
Adota alguma atitude: pensa que seus olhos são malignos. Então se voltará difícil. Então adquirirá o mesmo estado problemático que adquiriu o sexo. Então quererá ver, desejará e desejará ver. Mas quando vir, sentirá-se culpado. Cada vez que ver, sentirá-se culpado de ter feito algo mau, de ter pecado. Você gostaria de matar o instrumento mesmo da vista; você gostaria de destruir seus olhos. E quanto mais quiser destrui-los, mais centrado está em seus olhos. Então empreenderá uma atividade muito absurda: quererá ver mais e mais, e simultaneamente se sentirá mais e mais culpado. O mesmo aconteceu com o centro sexual.
O tantra diz: «aceita o que é». Esta é a nota básica: a aceitação total. E só mediante a aceitação total pode crescer. Então usa todas as energias que tenha. Como as pode usar? As aceite; logo averigua o que são estas energias: o que é o sexo, o que é este fenômeno? Não o conhecemos. Sabemos muitas coisas sobre o sexo, as que os outros nos ensinaram. Pode ser que tenhamos passado pelo ato sexual, mas com uma mente culpado, com uma atitude repressiva, depressa, apressadamente. Terá que fazer algo para desafogar-se. O ato sexual não é um ato amoroso. Não é feliz nele, mas não pode deixá-lo. Quanto mais trata de deixá-lo, mais atrativo se volta. Quanto mais quer negá-lo, mais se sente incitado.
Não pode negá-lo, mas esta atitude de negar, de destruir, destrói a mente mesma, a consciência mesma, a sensibilidade mesma que o pode compreender. De maneira que o sexo continua sem nenhuma sensibilidade nele. Então não pode entendê-lo. Só uma profunda sensibilidade pode fazer entender algo; só senti-la com profundidade, só entrar nela em profundidade pode entender algo. Só pode entender o sexo se entrar nele como um poeta o faz entre as flores: só então! Se se sentir culpado em relação às flores, pode ser que passe pelo jardim, mas passará com os olhos fechados. E irá com pressa, com uma pressa profunda e louca. Tem que sair de alguma forma do jardim. Assim, como pode ser consciente?
De modo que o tantra diz: «aceita o que é». É um grande mistério de muitas energias multidimensionais. Aceita-o, e entra em cada energia com profunda sensibilidade, com consciência, com amor, com compreensão. Entra nela! Então cada desejo se converte em um veículo para transcendê-lo. Então cada energia se converte em uma ajuda. E então este mundo mesmo é o nirvana, este corpo mesmo é um templo: um templo sagrado, um lugar sagrado.
O ioga é negação; o tantra é afirmação. O ioga pensa em términos de dualidade: daí a palavra «ioga». Significa juntar duas coisas, unir duas coisas com um «jugo». Mas se há duas coisas, há dualidade. O tantra diz que não há dualidade. Se houver dualidade, não pode as unir. E se  tentar como o tenta, seguirão sendo dois. Junte-as como as junta, seguirão sendo dois, e a luta continuará, o dualismo continuará.
Se o mundo e o divino são dois, então não podem ser unidos. Se na realidade não são dois, se só parecer que são dois, só então podem ser um. Se seu corpo e sua alma são dois, então não podem ser unidos. Se você e Deus são dois, então não há nenhuma possibilidade de uni-los. Seguirão sendo dois.
O tantra diz que não há dualidade; é só uma aparência. Assim por que ajudar à aparência a fortalecer-se? O tantra pergunta: « por que ajudar a esta aparência de dualidade a fortalecer-se?» Dissolve-a agora mesmo! Seja um! Mediante a aceitação te faz um, não mediante a luta. Aceita o mundo, aceita o corpo, aceita tudo o que é inerente a ele. Não crie um centro diferente em ti, porque para o tantra esse centro diferente não é outra coisa senão o ego. Não crie um ego. Simplesmente seja consciente do que é. Se lutas, o ego estará presente.
De modo que é muito difícil encontrar um iogue que não seja um egoísta. E pode que os iogues sigam falando do estado sem ego, mas eles não podem estar sem ego. O processo mesmo pelo que passam cria o ego. A luta é o processo. Se lutas, está exposto a criar um ego. E quanto mais lute, mais se fortalecerá o ego. E se é sua vontade a luta, conseguirá o ego supremo.
O tantra diz: «nenhuma luta!» Então não há nenhuma possibilidade de ego. Se compreendermos o tantra, haverá muitos problemas, porque para nós, se não haver luta, há só desenfreio. Não-luta significa desenfreio para nós. Então nos assustamos. Demos rédea solta durante vistas inteiras e não chegamos a nenhuma parte. Mas para o tantra, o desenfreio não é o desenfreio que nós conhecemos. O tantra diz: «dá-te rédea solta, mas sem consciente».
Sente-se furioso... O tantra não dirá que não se sinta furioso. O tantra dirá que esteja furioso sem reservas, mas que seja consciente. O tantra não está contra a fúria; o tantra só está contra o adormecimento espiritual, a inconsciência espiritual. Sei consciente e sinta-se furioso. E este é o segredo do método: que se for consciente, a ira se transforma: volta-se compaixão.
Assim é que o tantra diz que a ira não é seu inimigo; é compaixão em semente. A mesma ira, a mesma energia, converterá em compaixão. Se lutas com ela, não haverá nenhuma possibilidade para a compaixão. De maneira que se tiver êxito na luta, na repressão, estará morto. Então não haverá ira, porque a reprimiste, mas tampouco haverá compaixão, porque só a ira pode ser transformada em compaixão. Se tiver êxito em sua repressão -o qual é impossível-, não haverá sexo, mas tampouco amor, porque se o sexo está morto, não há nenhuma energia que possa converter-se em amor. De modo que não terá sexo, mas tampouco terá amor. E então perdeste toda a oportunidade, porque sem amor não há divindade, sem amor não há liberação, e sem amor não há liberdade.
O tantra diz que estas mesmas energias devem ser transformadas. Pode-se dizer desta forma: se estiver contra o mundo, então não há nirvana, porque este mundo mesmo deve ser transformado em nirvana. Então está contra as energias básicas que são a fonte.
Assim é que a alquimia tántrica diz: «não lute, seja afetuoso com todas as energias que lhe são dadas. As acolha.» Agradece que tem ira, que tem sexo, que tem avareza. Te mostre agradecido, porque são as fontes ocultas, e podem ser transformadas, podem ser abertas. E quando o sexo é transformado, converte-se em amor. perdeu-se o veneno, perdeu-se a fealdade.
A semente é feia, mas quando toma vida, brota e floresce. Então há beleza. Não tire a semente, porque então está tirando também as flores que há nela. Ainda não estão aí, ainda não se manifestaram para que possa as ver. Não se manifestaram, mas estão aí. Usa esta semente para poder obter as flores. Assim primeiro deixa que haja aceitação, uma compreensão sensível e consciência. Então o desenfreio está permitido. Uma coisa mais que é realmente muito estranha, mas que é um dos descobrimentos mais profundos do tantra: «com algo que considere sua inimizade -a avareza, a ira, o ódio, o sexo, o que seja- sua percepção de que são inimigos converte em sua inimizade. Considera-os presente divino e trata-o com um coração muito agradecido. Por exemplo, o tantra desenvolveu muitas técnicas para a transformação da energia sexual. Te aproxime do ato sexual como se estivesse te aproximando do templo do divino. Trata o ato sexual como se fora uma oração, como se fora uma meditação. Sente o que tem de sagrado.
Por isso no Khajuraho, no Puri, no Konarak, todos os templos têm maithum, esculturas do coito. O ato sexual nos muros dos templos parece ilógico, especialmente para o cristianismo, para o maometismo, para o jainismo. Parece inconcebível, contraditório. Que relação tem o templo com as imagens maithum? Nos muros externos dos templos do Khajuraho, todo tipo concebível de ato sexual está plasmado em pedra. Por que? Em um templo não é aceitável, ao menos isso é o que pensamos. O cristianismo não pode imaginar o muro de uma igreja com as imagens do Khajuraho. Impossível!
Os hindus modernos também se sentem culpados, porque a mente dos hindus modernos está criada pelo cristianismo. São «fundo-cristãos», e são piores, porque ser cristão está bem, mas ser hindo-cristianizo é simplesmente estranho. Sentem-se culpados. Um líder hindu, Purshottamdas Tandon, considerava inclusive que estes templos tinham que ser destruídos, que não nos pertencem. Em realidade, parece que não nos pertencem porque o tantra não esteve em nossos corações por muito tempo, há séculos. Não foi a corrente principal. O ioga foi a corrente principal, e para o ioga, Khajuraho é inconcebível: deve ser destruído.
O tantra diz: «te aproxime do ato sexual como se estivesse entrando em um templo sagrado.» Por isso representaram o ato sexual em seus templos sagrados. Foi dito: «te aproxime do sexo como se estivesse entrando em um templo sagrado». Portanto, quando entra em um templo sagrado, o sexo deve estar presente para que ambos fiquem unidos, associados em sua mente. Então pode sentir que o mundo e o divino não são dois elementos em luta, a não ser um. Não são contraditórios, a não ser simplesmente pólos opostos que se ajudam mutuamente. E só podem existir por causa desta polaridade. Se se perder esta polaridade, perde-se o mundo inteiro. Assim vê a profunda unidade que passa por todas as coisas. Não veja só os pólos opostos; vê o fluxo interno que os unifica.
Para o tantra todo é sagrado. Recorda isto: para o tantra todo é sagrado; nada é profano. Considera o desta maneira: para uma pessoa irreligiosa, tudo é profano; para as denominadas pessoas religiosas, algumas costumes são sagradas, algumas costumes são profanas.
Para o tantra, tudo é sagrado.
Um missionário cristão esteve comigo faz uns poucos dias e disse: «Deus criou o mundo. Assim que lhe perguntei: «Quem criou o pecado?» Ele disse: «O diabo.»
Então lhe perguntei: « Quem criou ao diabo?» Então se sentiu confuso. Disse: «É obvio, Deus criou ao diabo.»
O diabo cria o pecado e Deus cria ao diabo. Então, quem é o verdadeiro pecador: o diabo ou Deus? Mas a concepção dualista sempre conduz a semelhantes absurdos. Para o tantra, Deus e o diabo não são dois. Em realidade, para o tantra não há nada que possa ser chamado «diabo»; todo é divino, tudo é sagrado. E este parece ser o ponto de vista correto, o mais profundo. Se algo for profano neste mundo, de onde vem e como pode existir?
Assim só há duas alternativas. A primeira é a alternativa do ateu, que diz que tudo é profano. Esta atitude está bem. Também ele é não-dualista; não vê nada sagrado no mundo. Logo está a alternativa do tântrico: diz que tudo é sagrado. Ele também é não dualista. Mas entre estes duas estão as denominadas pessoas religiosas, que não são realmente religiosas. Não são nem religiosas nem irreligiosas, porque estão sempre em conflito. Toda sua teologia é simplesmente para arrumar-lhe para juntar cabos, mas estes cabos não se podem unir.
Se uma só célula, se um só átomo neste mundo é profano, então o mundo inteiro se volta profano, porque como pode existir esse único átomo em um mundo sagrado? Como pode ser? É sustentado por tudo; para existir, tem que ser sustentado por tudo. E se o elemento profano é sustentado por todos os elementos sagrados, então que diferença há entre eles? De modo que o mundo é totalmente, incondicionalmente sagrado, ou é profano; não há caminho intermédio.
O tantra diz que tudo é sagrado; por isso não podemos entendê-lo. É o ponto de vista não-dual mais profundo, se é que podemos chamá-lo ponto de vista. Não o é, porque qualquer ponto de vista está exposto a ser dual. Não está contra nada, assim não é um ponto de vista. É uma unidade sentida, uma unidade vivida.
São dois caminhos, o ioga e o tantra. O tantra não podia ser tão atrativo devido a nossas mentes aleijadas. Mas sempre que há alguém que é são por dentro, não um caos, o tantra tem beleza. Só essa pessoa pode compreender o que é o tantra. O ioga tem atrativo, um atrativo fácil, devido a nossas mentes perturbadas.
Recorda: essencialmente é seu memore a que faz a algo atrativo ou não atrativo. Você é o fator decisivo.
Estes enfoques são diferentes. Não estou dizendo que não se possa chegar por meio do ioga. Também se pode chegar por meio do ioga, mas não por meio do ioga que prevalece. O ioga que prevalece não é realmente ioga, a não ser a interpretação de suas mentes doentes. O ioga pode ser autenticamente um método para chegar ao supremo, mas também isso só é possível quando sua mente está sã, quando sua mente não é insana e doente. Então o ioga toma um caráter diferente.
Por exemplo, Mahavira seguiu o caminho do ioga, mas não reprimiu realmente o sexo. Tinha-o conhecido, tinha-o vivido, estava profundamente familiarizado com ele. Mas se voltou totalmente inútil para ele, e então o deixou. Buda seguiu o caminho do ioga, mas tinha vivido no mundo, conhecia-o profundamente. Não estava lutando.
Uma vez que conhece algo, libera-te disso. Simplesmente cai como caem as folhas mortas de uma árvore. Não é renúncia; não há nenhuma luta de por meio. Olhe o rosto da Buda: não parece o rosto de um lutador. Não esteve lutando. Está completamente depravado; seu rosto é o símbolo mesmo da relaxação..., não há luta.
Olhem a seus iogues. A luta é visível em seus rostos. No mais fundo há muita agitação: agora mesmo estão sentados sobre vulcões. Pode olhar seus olhos, seus rostos, e o notará. No mais fundo, em alguma parte, reprimiram todas suas doenças; não as hão transcendido.
Em um mundo são, no que todos estejam vivendo sua vida autenticamente, individualmente, sem imitar a outros, a não ser vivendo sua própria vida a sua maneira, ambos são possíveis. Pode ser que alguém aprenda a sensibilidade profunda que transcende os desejos; pode ser que chegue a um ponto no que todos os desejos se voltem inúteis e se acabem. O ioga também pode levar a isso; recorda-o. Necessitamos de uma mente sã, um homem natural. Nesse mundo em que haja um homem natural, o tantra, e também o ioga, levarão a transcendência dos desejos.
Em nossa denominada sociedade doente, nem o ioga nem o tantra podem fazer isto, porque se escolhermos o ioga, não o escolhemos porque os desejos se tornaram inúteis, não! Ainda são significativos; não estão desaparecendo por si mesmos. Temos que forçá-los. Se escolhermos o ioga, escolhemo-lo como técnica de repressão. Se escolhermos o tantra, escolhemos o tantra como astúcia, como engano profundo: uma desculpa para desenfrear-se.
De maneira que com uma mente insana nem o ioga nem o tantra podem funcionar. Ambos conduzirão a decepções. Para começar, necessita-se uma mente sã, sobre tudo uma mente sã sexualmente. Então não é muito difícil escolher seu caminho. Pode escolher o ioga, pode escolher o tantra.
Basicamente, há dois tipos de pessoas: masculinas e femininas. Não quero dizer biologicamente, a não ser psicologicamente. Para os que psicologicamente são basicamente masculinos -agressivos, violentos, extrovertidos-, o ioga é seu caminho. Para os que são basicamente femininos -receptivos, passivos, não-violentos- o tantra é seu caminho. E o pode notar: para o tantra, a Mãe Kali, Tara e tantas devis, bhairavis divindades femininas- são muito significativas. No ioga nunca ouvirá mencionar nenhum nome de uma deidade feminina. O tantra tem deidades femininas; o ioga tem deuses masculinos. O ioga é energia que sai; o tantra é energia que vai para dentro. Assim, em términos da psicologia moderna, pode-se dizer que o ioga é extrovertido, e o tantra, introvertido. Assim depende da personalidade. Se tiver uma personalidade introvertida, então a luta não é para ti. Se tiver uma personalidade extrovertida, então a luta é para ti.
Mas estamos simplesmente confusos, parecemos uma confusão; por isso é que nada serve. Ao contrário, tudo perturba. O ioga te perturbará, o tantra te perturbará. Cada medicina vai criar uma nova enfermidade para ti, porque o que escolhe está doente, insano; de modo que o resultado de sua eleição será a enfermidade. Assim não quero dizer que não possa chegar por meio do ioga. Ponho a ênfase no tantra só porque vamos tratar de compreender o que é o tantra.
Pergunta 2 - No caminho da entrega, como dá o buscador com a técnica apropriada entre estes cento e doze métodos?
No caminho da vontade há métodos: estes cento e doze métodos. No caminho da entrega, o próprio ato da entrega é o método; não há outros métodos. Recorda isto. Todos os métodos são no-entrega, porque um método significa depender de ti mesmo. Pode fazer algo; a técnica existe e a pode aplicar. No caminho da entrega já não existe, assim não pode fazer nada. Fez o supremo, o último: entregaste-te. No caminho da entrega, entrega-a é o único método.
Estes cento e doze métodos requerem certa vontade; requerem que faça algo. Manipula sua energia, equilibra sua energia, cria um centro em seu caos. Faz algo. Seu esforço é significativo, básico, necessário. No caminho da entrega só se necessita uma coisa: entrega-te. Aprofundaremos nestes cento e doze métodos, assim é bom dizer algo sobre a entrega, porque não tem método.
Nestes cento e doze métodos não haverá nada sobre a entrega. Por que não é dito nada sobre a entrega? Porque não se pode dizer nada. A mesma Bhairavi, a mesma Devi, não chegou a Shiva por meio de nenhum método. Simplesmente se entregou. Assim terá que dar-se conta disto. Não está fazendo estas perguntas para si mesmo; estas perguntas se estão fazendo para toda a humanidade. Ela chegou a Shiva. Ela já está em seu regaço; é abraçada por ele. Ela se fundiu com ele, mas ainda pergunta.
Assim recorda uma coisa: ela não está perguntando para si mesma, não há nenhuma necessidade. Está perguntando para toda a humanidade.
Mas se ela já chegou, por que está perguntando a Shiva? Não pode falar ela mesma com a humanidade? Ela chegou pelo caminho da entrega, de maneira que não sabe nada sobre o método. Ela mesma chegou mediante o amor; o amor é suficiente em si mesmo, o amor não necessita nada mais. Ela chegou mediante o amor, de modo que não sabe nada sobre métodos, técnicas. Por isso está perguntando.
Por que não é dito nada Shiva sobre a entrega? Porque não se pode dizer nada. A mesma Bhairavi, a mesma Devi, não chegou a Shiva por meio de nenhum método. Simplesmente se entregou. Assim terá que dar-se conta disto. Não está fazendo estas perguntas para si mesmo; estas perguntas se estão fazendo para toda a humanidade. Ela chegou a Shiva. Ela já está em seu regaço; é abraçada por ele. Ela se fundiu com ele, mas ainda pergunta.
Assim recorda uma coisa: ela não está perguntando para si mesma, não há nenhuma necessidade.
Está perguntando para toda a humanidade. Mas se ela já chegou, por que está perguntando a Shiva? Não pode falar ela mesma com a humanidade? Ela chegou pelo caminho da entrega, de maneira que não sabe nada sobre o método. Ela mesma chegou mediante o amor; o amor é suficiente em si mesmo, o amor não necessita nada mais. Ela chegou mediante o amor, de modo que não sabe nada sobre métodos, técnicas. Por isso está perguntando.
E Shiva descreve cento e doze métodos. Não falará da entrega, porque a entrega não é realmente um método. Entrega-te só quando todos os métodos se tornaram inúteis, quando não pode chegar por nenhum método. Fez tudo o que pudeste. Chamaste a todas as portas e nenhuma porta se abre, e passaste por todas as rotas e nenhuma rota chega. Fez tudo o que pode fazer, e agora se sente impotente. Nessa total impotência se produz a entrega. De modo que no caminho da entrega não há método. 
Mas o que é a entrega e como funciona? E se a entrega funciona, que necessidade tem de cento e doze métodos? Então por que entrar neles necessariamente?, perguntará a mente. Então muito bem! Se a entrega funciona, é melhor entregar-se. Por que seguir desejando métodos? E quem sabe se um método específico será apropriado para ti ou não? E pode ser que demoremos muito em averiguá-lo. Assim é bom entregar-se, mas é difícil. É o mais difícil do mundo.
Os métodos não são difíceis. São fáceis; pode-te adestrar. Mas para a entrega não te pode adestrar..., não há nenhum adestramento! Não pode perguntar como te entregar; pergunta-a mesma é absurda. Como pode perguntar como te entregar? Pode perguntar como amar?
Ou há amor ou não o há, mas não pode perguntar como amar. E se alguém te diz e te ensina como amar, recorda: nunca será capaz de amar. Uma vez que te deu uma técnica para o amor, aferrará à técnica. Por isso é que os atores não podem amar. Sabem tantas técnicas, tantos métodos; e todos somos atores. Uma vez que sabe o truque de como amar, o amor não floresce, porque criaste uma fachada, um engano. E como o engano não está nisso, não está envolto. Está protegido.
O amor é estar totalmente aberto, vulnerável. É perigoso, volta-te inseguro. Não podemos perguntar como amar, não podemos perguntar como nos entregar. Acontece! O amor acontece, entrega-a acontece. O amor e a entrega são profundamente uma só coisa. Mas o que é? E se não podermos saber como nos entregar, ao menos podemos saber como estamos nos mantendo a nós mesmos, como estamos impedindo de nos entregar. Isso se pode saber e isso é útil.
Como é que ainda não te entregaste? Qual é sua técnica de no-entrega? Se ainda não te apaixonaste, então o verdadeiro problema não é como amar. O verdadeiro problema é afundar profundamente para averiguar como viveste sem amor, qual é seu truque, qual é sua técnica, qual é sua estrutura: sua estrutura de defesa, como viveste sem amor. Isso se pode entender, e isso terei que entendê-lo.
O primeiro: vivemos com o ego, no ego, centrados no ego. Sou, sem saber quem sou. Sigo proclamando: «eu existo». Este «eu-existo» é falso, porque não sei quem sou. E a menos que saiba quem sou, como posso dizer «eu»? Este «eu» é um falso «eu». Este falso «eu» é o ego. Esta é a defesa. Isto te protege da entrega.
Não te pode entregar, mas pode tomar consciência desta medida de defesa. Se tiver tomado consciência, dissolve-se. A partir de então, não o segue fortalecendo, e um dia chega a sentir: «eu não sou». No momento em que chega a sentir «eu não sou», produz-se a entrega. Assim trata de averiguar se for. Em realidade, há um centro em ti que possa chamar seu «eu»? Afunda profundamente em seu interior, segue tratando de averiguar onde está este «eu», onde está a morada deste ego.

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