Perguntas:
Que diferença há entre o ioga e o tantra?
No caminho da entrega, como dar com a técnica apropriada?
Como saber se a técnica que se está praticando terá êxito?
Há muitas perguntas:
Pergunta 1 Que diferença há entre o ioga tradicional e o tantra?
São o mesmo?
O tantra e o ioga
são essencialmente diferentes. Chegam à mesma meta; entretanto, seus caminhos
não são só diferentes, mas também contrários. É necessário entender isto muito
claramente.
O processo do
ioga também é metodologia, o ioga também é técnica. O ioga não é filosofia.
Igual ao tantra, o ioga se apoia na ação, o método, a técnica. Fazer conduz a
ser também no ioga, mas o processo é diferente. No ioga terá que lutar; é o
caminho do guerreiro. No caminho do tantra não terá que lutar em modo algum.
Mas bem, pelo contrário, terá que dar-se gosto, mas com consciência.
O ioga é
refreamento com consciência; o tantra é complacência com consciência. O tantra
diz que faça o que faça, o supremo não é contrário a isso. É um crescimento;
pode crescer para ser o supremo. Não há oposição entre você e a realidade.
Forma parte dela, assim não é necessária nenhuma luta, nenhum conflito, nenhuma
oposição à natureza. Tem que usar a natureza; tem que usar algo que seja para
ir mais à frente.
No ioga, tem que
lutar contigo mesmo para ir mais à frente. No ioga, o mundo e moksha, a
Liberação -você tal como é e você tal como pode ser-, são duas coisas opostas.
Refreia, combate, dissolve o que é para poder alcançar o que pode ser. Ir mais
à frente é uma morte no ioga. Deve morrer para que seu ser autêntico nasça. (Moksha (sânscrito:
liberação) ou Mukti (sânscrito: soltura), refere-se, em termos gerais, à
libertação do ciclo do renascimento e da morte e à iluminação espiritual.)
Aos olhos do
tantra, o ioga é um suicídio profundo. Deve matar seu ser natural: seu corpo,
seus instintos, seus desejos, tudo. O tantra diz que aceite a ti mesmo tal como
é. É uma aceitação profunda. Não crie uma fissura entre você e o real, entre o
mundo e a Iluminação. Não crie nenhuma fissura. Não há fissuras para o tantra;
não é necessária nenhuma morte. Para seu renascimento não é necessária nenhuma
morte: mas bem uma transcendência. Para esta transcendência, te use a ti mesmo.
Por exemplo,
existe o sexo, a energia básica: a energia básica através da que nasceste, com
a que nasceste. As células básicas de seu ser e de seu corpo são sexuais, de
maneira que a mente humana gira em torno do sexo. Para o ioga, deve lutar com esta energia. Através da luta, cria um centro
diferente em ti mesmo. Quanto mais luta, mais te integra em um centro
diferente. Então o sexo não é seu centro. Lutar com o sexo –é obvio,
conscientemente- criará em ti um novo centro de ser, uma nova ênfase, uma nova
cristalização. Então o sexo não será sua energia. Criará sua energia lutando
com o sexo.
Uma energia
diferente será criada e um centro diferente de existência. Para o tantra, tem que usar a
energia do sexo. Não lute com ela, transforma-a. Não pense em términos de
antagonismo, seja afetuoso com ela. É sua energia. Não é má, não é daninha.
Toda energia é simplesmente natural. Pode ser usada a seu favor, pode ser usada
contra ti. Pode fazer dela um obstáculo, uma barreira, ou pode fazer dela um
degrau. Pode ser usada. Usada corretamente, converte-se em sua amiga; usada
erroneamente, converte-se em sua inimizade. Mas não é nenhuma das duas coisas.
A energia é simplesmente natural. Um homem corrente está utilizando o sexo;
este se converte em um inimigo, destrói a esse homem; o homem simplesmente se
dissipa no sexo.
O ioga adota a
opinião contrária, contrária à mente corrente. A
mente corrente está sendo destruída por seus próprios desejos, de modo que o
ioga diz que deixe de desejar, que esteja sem desejos. Combate o desejo e cria
uma integração em ti sem desejos.
O tantra diz que seja consciente do desejo; que
não crie nenhuma luta. Entra no desejo com total consciência, e quando entra no
desejo com total consciência, o transcendes. Está nele e, entretanto, não está
nele. Passa por ele, mas permanece alheio. O ioga tem muito atrativo porque o ioga é
justo o contrário da mente corrente, de maneira que a mente corrente pode
entender a linguagem do ioga. Sabe que o sexo te está destruindo: que te destruiu,
que segue girando em torno dele como um escravo, como uma marionete. Sabe isto
por experiência. De modo que quando o ioga diz que o combata, imediatamente
compreende o que diz. Esse é o atrativo, o fácil atrativo do ioga.
O tantra não pode ser tão facilmente
atrativo. Parece difícil: como entrar no desejo sem ser afligido por ele? Como
estar no ato sexual conscientemente, com total conscientização? A mente
corrente se assusta. Parece perigoso. Não é que seja perigoso; algo que sabe
sobre o sexo cria este perigo para ti. Conhece-te ti mesmo, sabe como te
enganar a ti mesmo. Sabe muito bem que sua mente é ardilosa. Pode entrar no
desejo, no sexo, em tudo, e pode te enganar a ti mesmo te dizendo que o está
fazendo com completa consciência. Por isso sente o perigo.
O perigo não está
no tantra; está em ti. E o atrativo do ioga se deve a ti, deve-se a sua mente
corrente, sua mente sexualmente reprimida, faminta de sexo, que sente prazer no
sexo. Pelo fato da mente corrente não ser sã com respeito ao sexo, o ioga
resulta atrativo. Com uma humanidade melhor, com uma sexualidade sã -natural,
normal- as coisas seriam diferentes. Não somos normais e naturais. Somos
absolutamente anormais, insalubres, verdadeiramente dementes. Mas como todos
são como nós, nunca nos damos conta.
A loucura é tão
normal que não estar louco pode parecer anormal. Um Buda é anormal, um Jesus é
anormal entre nós. Não formam parte de nós. Esta «normalidade» é uma
enfermidade. Esta mente «normal» criou o atrativo do ioga. Se tomar o sexo de
modo natural -sem nenhuma filosofia em torno dele, sem nenhuma filosofia a
favor ou contra-, se tomar o sexo como toma suas mãos, seus olhos, se for
totalmente aceito como algo natural, então o tantra resultará atrativo. E só
então pode o tantra ser útil para muita gente.
Mas os dias do
tantra se aproximam. Cedo ou tarde, o tantra explorará pela primeira vez entre
as massas, porque pela primeira vez chegou o momento, o momento para tomar o
sexo de modo natural. É possível que a explosão possa proceder do Ocidente,
porque Freud, Jung, Reich prepararam o ambiente. Não sabiam nada sobre tantra,
mas criaram o terreno básico para que o tantra se desenvolva. A psicologia
ocidental há chegado à conclusão de que a enfermidade humana básica está
relacionada com o sexo, a loucura básica do homem está dirigida para o sexo. (Wilhelm Reich (1897-1957) foi um importante psiquiatra e psicanalista austríaco
pioneiro no estudo dos fenômenos psicossomáticos. ... Wilhelm Reichnasceu em
Dubrozcynica, no antigo Império Austro-Húngaro, hoje, no noroeste da Ucrânia,
no dia 24 de março de 1897).
De modo que, a
menos que se dissolva esta orientação para o sexo, o homem não pode ser
natural, normal. O homem se desencaminhou a causa tão somente de suas atitudes
respeito ao sexo. Não é necessária nenhuma atitude. Só então é natural. Que
atitude tem respeito a seus olhos? São malignos ou são divinos? Está a favor ou
contra seus olhos? Não há nenhuma atitude! Por isso seus olhos são normais.
Adota alguma
atitude: pensa que seus olhos são malignos. Então se voltará difícil. Então adquirirá
o mesmo estado problemático que adquiriu o sexo. Então quererá ver, desejará e
desejará ver. Mas quando vir, sentirá-se culpado. Cada vez que ver, sentirá-se
culpado de ter feito algo mau, de ter pecado. Você gostaria de matar o
instrumento mesmo da vista; você gostaria de destruir seus olhos. E quanto mais
quiser destrui-los, mais centrado está em seus olhos. Então empreenderá uma
atividade muito absurda: quererá ver mais e mais, e simultaneamente se sentirá
mais e mais culpado. O mesmo aconteceu com o centro sexual.
O tantra diz: «aceita o que é». Esta é a nota básica: a aceitação total. E só mediante a
aceitação total pode crescer. Então usa todas as energias que tenha. Como as
pode usar? As aceite; logo averigua o que são estas energias: o que é o sexo, o
que é este fenômeno? Não o conhecemos. Sabemos muitas coisas sobre o sexo, as
que os outros nos ensinaram. Pode ser que tenhamos passado pelo ato sexual, mas
com uma mente culpado, com uma atitude repressiva, depressa, apressadamente.
Terá que fazer algo para desafogar-se. O ato sexual não é um ato amoroso. Não é
feliz nele, mas não pode deixá-lo. Quanto mais trata de deixá-lo, mais atrativo
se volta. Quanto mais quer negá-lo, mais se sente incitado.
Não pode negá-lo,
mas esta atitude de negar, de destruir, destrói a mente mesma, a consciência
mesma, a sensibilidade mesma que o pode compreender. De maneira que o sexo
continua sem nenhuma sensibilidade nele. Então não pode entendê-lo. Só uma
profunda sensibilidade pode fazer entender algo; só senti-la com profundidade,
só entrar nela em profundidade pode entender algo. Só pode entender o sexo se
entrar nele como um poeta o faz entre as flores: só então! Se se sentir culpado
em relação às flores, pode ser que passe pelo jardim, mas passará com os olhos
fechados. E irá com pressa, com uma pressa profunda e louca. Tem que sair de
alguma forma do jardim. Assim, como pode ser consciente?
De modo que o
tantra diz: «aceita o que é». É um grande mistério de muitas energias multidimensionais.
Aceita-o, e entra em cada energia com profunda sensibilidade, com consciência,
com amor, com compreensão. Entra nela! Então cada desejo se converte em um
veículo para transcendê-lo. Então cada energia se converte em uma ajuda. E
então este mundo mesmo é o nirvana, este corpo mesmo é um templo: um templo
sagrado, um lugar sagrado.
O ioga é negação; o tantra é afirmação. O ioga pensa em términos de dualidade: daí a palavra «ioga».
Significa juntar duas coisas, unir duas coisas com um «jugo». Mas se há duas
coisas, há dualidade. O tantra diz que não há dualidade. Se houver dualidade,
não pode as unir. E se tentar como o
tenta, seguirão sendo dois. Junte-as como as junta, seguirão sendo dois, e a
luta continuará, o dualismo continuará.
Se o mundo e o
divino são dois, então não podem ser unidos. Se na realidade não são dois, se
só parecer que são dois, só então podem ser um. Se seu corpo e sua alma são
dois, então não podem ser unidos. Se você e Deus são dois, então não há nenhuma
possibilidade de uni-los. Seguirão sendo dois.
O tantra diz que não há dualidade; é só uma
aparência. Assim por que ajudar à aparência a fortalecer-se? O tantra pergunta:
« por que ajudar a esta aparência de dualidade a fortalecer-se?» Dissolve-a
agora mesmo! Seja um! Mediante a aceitação te faz um, não mediante a luta.
Aceita o mundo, aceita o corpo, aceita tudo o que é inerente a ele. Não crie um
centro diferente em ti, porque para o tantra esse centro diferente não é outra
coisa senão o ego. Não crie um ego. Simplesmente seja consciente do que é. Se
lutas, o ego estará presente.
De modo que é
muito difícil encontrar um iogue que não seja um egoísta. E pode que os iogues
sigam falando do estado sem ego, mas eles não podem estar sem ego. O processo
mesmo pelo que passam cria o ego. A luta é o processo. Se lutas, está exposto a
criar um ego. E quanto mais lute, mais se fortalecerá o ego. E se é sua vontade
a luta, conseguirá o ego supremo.
O tantra diz: «nenhuma luta!» Então não há
nenhuma possibilidade de ego. Se compreendermos o tantra, haverá muitos
problemas, porque para nós, se não haver luta, há só desenfreio. Não-luta
significa desenfreio para nós. Então nos assustamos. Demos rédea solta durante
vistas inteiras e não chegamos a nenhuma parte. Mas para o tantra, o desenfreio
não é o desenfreio que nós conhecemos. O tantra diz: «dá-te rédea solta, mas sem
consciente».
Sente-se
furioso... O tantra não dirá que não se sinta furioso. O tantra dirá que esteja
furioso sem reservas, mas que seja consciente. O tantra não está contra a fúria;
o tantra só está contra o adormecimento espiritual, a inconsciência espiritual.
Sei consciente e sinta-se furioso. E este é o segredo do método: que se for
consciente, a ira se transforma: volta-se compaixão.
Assim é que o
tantra diz que a ira não é seu inimigo; é compaixão em semente. A mesma ira, a
mesma energia, converterá em compaixão. Se lutas com ela, não haverá nenhuma
possibilidade para a compaixão. De maneira que se tiver êxito na luta, na
repressão, estará morto. Então não haverá ira, porque a reprimiste, mas
tampouco haverá compaixão, porque só a ira pode ser transformada em compaixão.
Se tiver êxito em sua repressão -o qual é impossível-, não haverá sexo, mas
tampouco amor, porque se o sexo está morto, não há nenhuma energia que possa converter-se
em amor. De modo que não terá sexo, mas tampouco terá amor. E então perdeste
toda a oportunidade, porque sem amor não há divindade, sem amor não há
liberação, e sem amor não há liberdade.
O tantra diz que
estas mesmas energias devem ser transformadas. Pode-se dizer desta forma: se
estiver contra o mundo, então não há nirvana, porque este mundo mesmo deve ser
transformado em nirvana. Então está contra as energias básicas que são a fonte.
Assim é que a
alquimia tántrica diz: «não lute, seja afetuoso com todas as energias que lhe
são dadas. As acolha.» Agradece que tem ira, que tem sexo, que tem avareza. Te
mostre agradecido, porque são as fontes ocultas, e podem ser transformadas,
podem ser abertas. E quando o sexo é transformado, converte-se em amor.
perdeu-se o veneno, perdeu-se a fealdade.
A semente é feia,
mas quando toma vida, brota e floresce. Então há beleza. Não tire a semente,
porque então está tirando também as flores que há nela. Ainda não estão aí,
ainda não se manifestaram para que possa as ver. Não se manifestaram, mas estão
aí. Usa esta semente para poder obter as flores. Assim primeiro deixa que haja
aceitação, uma compreensão sensível e consciência. Então o desenfreio está
permitido. Uma coisa mais que é realmente muito estranha, mas que é um dos
descobrimentos mais profundos do tantra: «com algo que considere sua inimizade
-a avareza, a ira, o ódio, o sexo, o que seja- sua percepção de que são
inimigos converte em sua inimizade. Considera-os presente divino e trata-o com
um coração muito agradecido. Por exemplo, o tantra desenvolveu muitas técnicas
para a transformação da energia sexual. Te aproxime do ato sexual como se
estivesse te aproximando do templo do divino. Trata o ato sexual como se fora
uma oração, como se fora uma meditação. Sente o que tem de sagrado.
Por isso no
Khajuraho, no Puri, no Konarak, todos os templos têm maithum, esculturas do
coito. O ato sexual nos muros dos templos parece ilógico, especialmente para o
cristianismo, para o maometismo, para o jainismo. Parece inconcebível,
contraditório. Que relação tem o templo com as imagens maithum? Nos muros
externos dos templos do Khajuraho, todo tipo concebível de ato sexual está
plasmado em pedra. Por que? Em um templo não é aceitável, ao menos isso é o que
pensamos. O cristianismo não pode imaginar o muro de uma igreja com as imagens
do Khajuraho. Impossível!
Os hindus
modernos também se sentem culpados, porque a mente dos hindus modernos está
criada pelo cristianismo. São «fundo-cristãos», e são piores, porque ser
cristão está bem, mas ser hindo-cristianizo é simplesmente estranho. Sentem-se
culpados. Um líder hindu, Purshottamdas Tandon, considerava inclusive que estes
templos tinham que ser destruídos, que não nos pertencem. Em realidade, parece
que não nos pertencem porque o tantra não esteve em nossos corações por muito
tempo, há séculos. Não foi a corrente principal. O ioga foi a corrente
principal, e para o ioga, Khajuraho é inconcebível: deve ser destruído.
O tantra diz: «te aproxime do ato sexual como se
estivesse entrando em um templo sagrado.» Por isso representaram o ato sexual
em seus templos sagrados. Foi dito: «te aproxime do sexo como se estivesse
entrando em um templo sagrado». Portanto, quando entra em um templo sagrado, o
sexo deve estar presente para que ambos fiquem unidos, associados em sua mente.
Então pode sentir que o mundo e o divino não são dois elementos em luta, a não
ser um. Não são contraditórios, a não ser simplesmente pólos opostos que se
ajudam mutuamente. E só podem existir por causa desta polaridade. Se se perder
esta polaridade, perde-se o mundo inteiro. Assim vê a profunda unidade que
passa por todas as coisas. Não veja só os pólos opostos; vê o fluxo interno que
os unifica.
Para o tantra
todo é sagrado. Recorda isto: para o tantra todo
é sagrado; nada é profano. Considera o desta maneira: para uma pessoa
irreligiosa, tudo é profano; para as denominadas pessoas religiosas, algumas
costumes são sagradas, algumas costumes são profanas.
Para o tantra, tudo é sagrado.
Um missionário cristão
esteve comigo faz uns poucos dias e disse: «Deus criou o mundo. Assim que lhe
perguntei: «Quem criou o pecado?» Ele disse: «O diabo.»
Então lhe
perguntei: « Quem criou ao diabo?» Então se sentiu confuso. Disse: «É obvio,
Deus criou ao diabo.»
O diabo cria o
pecado e Deus cria ao diabo. Então, quem é o verdadeiro pecador: o diabo ou
Deus? Mas a concepção dualista sempre conduz a semelhantes absurdos. Para o
tantra, Deus e o diabo não são dois. Em realidade, para o tantra não há nada
que possa ser chamado «diabo»; todo é divino, tudo é sagrado. E este parece ser
o ponto de vista correto, o mais profundo. Se algo for profano neste mundo, de
onde vem e como pode existir?
Assim só há duas
alternativas. A primeira é a alternativa do ateu, que diz que tudo é profano.
Esta atitude está bem. Também ele é não-dualista; não vê nada sagrado no mundo.
Logo está a alternativa do tântrico: diz que tudo é sagrado. Ele também é não dualista.
Mas entre estes duas estão as denominadas pessoas religiosas, que não são realmente
religiosas. Não são nem religiosas nem irreligiosas, porque estão sempre em
conflito. Toda sua teologia é simplesmente para arrumar-lhe para juntar cabos,
mas estes cabos não se podem unir.
Se uma só célula,
se um só átomo neste mundo é profano, então o mundo inteiro se volta profano,
porque como pode existir esse único átomo em um mundo sagrado? Como pode ser? É
sustentado por tudo; para existir, tem que ser sustentado por tudo. E se o
elemento profano é sustentado por todos os elementos sagrados, então que
diferença há entre eles? De modo que o mundo é totalmente, incondicionalmente
sagrado, ou é profano; não há caminho intermédio.
O tantra diz que
tudo é sagrado; por isso não podemos entendê-lo.
É o ponto de vista não-dual mais profundo, se é que podemos chamá-lo ponto de
vista. Não o é, porque qualquer ponto de vista está exposto a ser dual. Não
está contra nada, assim não é um ponto de vista. É uma unidade sentida, uma
unidade vivida.
São dois
caminhos, o ioga e o tantra. O tantra não podia ser tão
atrativo devido a nossas mentes aleijadas. Mas sempre que há alguém que é são
por dentro, não um caos, o tantra tem beleza. Só essa pessoa pode compreender o
que é o tantra. O ioga tem atrativo, um atrativo fácil, devido a nossas mentes
perturbadas.
Recorda:
essencialmente é seu memore a que faz a algo atrativo ou não atrativo.
Você é o fator decisivo.
Estes enfoques
são diferentes. Não estou dizendo que não se possa chegar por meio do ioga.
Também se pode chegar por meio do ioga, mas não por meio do ioga que prevalece.
O ioga que prevalece não é realmente ioga, a não ser a interpretação de suas
mentes doentes. O ioga pode ser autenticamente um método para chegar ao
supremo, mas também isso só é possível quando sua mente está sã, quando sua
mente não é insana e doente. Então o ioga toma um caráter diferente.
Por exemplo,
Mahavira seguiu o caminho do ioga, mas não reprimiu realmente o sexo. Tinha-o
conhecido, tinha-o vivido, estava profundamente familiarizado com ele. Mas se
voltou totalmente inútil para ele, e então o deixou. Buda seguiu o caminho do
ioga, mas tinha vivido no mundo, conhecia-o profundamente. Não estava lutando.
Uma vez que
conhece algo, libera-te disso. Simplesmente cai como caem as folhas mortas de
uma árvore. Não é renúncia; não há nenhuma luta de por meio. Olhe o rosto da
Buda: não parece o rosto de um lutador. Não esteve lutando. Está completamente
depravado; seu rosto é o símbolo mesmo da relaxação..., não há luta.
Olhem a seus
iogues. A luta é visível em seus rostos. No mais fundo há muita agitação: agora
mesmo estão sentados sobre vulcões. Pode olhar seus olhos, seus rostos, e o
notará. No mais fundo, em alguma parte, reprimiram todas suas doenças; não as
hão transcendido.
Em um mundo são,
no que todos estejam vivendo sua vida autenticamente, individualmente, sem
imitar a outros, a não ser vivendo sua própria vida a sua maneira, ambos são
possíveis. Pode ser que alguém aprenda a sensibilidade profunda que transcende
os desejos; pode ser que chegue a um ponto no que todos os desejos se voltem
inúteis e se acabem. O ioga também pode levar a isso; recorda-o. Necessitamos de
uma mente sã, um homem natural. Nesse mundo em que haja um homem natural, o
tantra, e também o ioga, levarão a transcendência dos desejos.
Em nossa
denominada sociedade doente, nem o ioga nem o tantra podem fazer isto, porque
se escolhermos o ioga, não o escolhemos porque os desejos se tornaram inúteis,
não! Ainda são significativos; não estão desaparecendo por si mesmos. Temos que
forçá-los. Se escolhermos o ioga, escolhemo-lo como técnica de repressão. Se
escolhermos o tantra, escolhemos o tantra como astúcia, como engano profundo:
uma desculpa para desenfrear-se.
De maneira que
com uma mente insana nem o ioga nem o tantra podem funcionar. Ambos conduzirão
a decepções. Para começar, necessita-se uma mente sã, sobre tudo uma mente sã
sexualmente. Então não é muito difícil escolher seu caminho. Pode escolher o
ioga, pode escolher o tantra.
Basicamente, há
dois tipos de pessoas: masculinas e femininas. Não quero dizer biologicamente,
a não ser psicologicamente. Para os que psicologicamente são basicamente
masculinos -agressivos, violentos, extrovertidos-, o ioga é seu caminho. Para
os que são basicamente femininos -receptivos, passivos, não-violentos- o tantra
é seu caminho. E o pode notar: para o tantra, a Mãe Kali, Tara e tantas devis,
bhairavis divindades femininas- são muito significativas. No ioga nunca ouvirá
mencionar nenhum nome de uma deidade feminina. O tantra tem deidades femininas;
o ioga tem deuses masculinos. O ioga é energia que sai; o tantra é energia que
vai para dentro. Assim, em términos da psicologia moderna, pode-se dizer que o
ioga é extrovertido, e o tantra, introvertido. Assim depende da personalidade.
Se tiver uma personalidade introvertida, então a luta não é para ti. Se tiver
uma personalidade extrovertida, então a luta é para ti.
Mas estamos
simplesmente confusos, parecemos uma confusão; por isso é que nada serve. Ao
contrário, tudo perturba. O ioga te perturbará, o tantra te perturbará. Cada
medicina vai criar uma nova enfermidade para ti, porque o que escolhe está
doente, insano; de modo que o resultado de sua eleição será a enfermidade.
Assim não quero dizer que não possa chegar por meio do ioga. Ponho a ênfase no
tantra só porque vamos tratar de compreender o que é o tantra.
Pergunta 2 - No caminho da entrega, como dá o buscador com a
técnica apropriada entre estes cento e doze métodos?
No caminho da
vontade há métodos: estes cento e doze métodos. No caminho da entrega, o
próprio ato da entrega é o método; não há outros métodos. Recorda isto. Todos
os métodos são no-entrega, porque um método significa depender de ti mesmo.
Pode fazer algo; a técnica existe e a pode aplicar. No caminho da entrega já
não existe, assim não pode fazer nada. Fez o supremo, o último: entregaste-te.
No caminho da entrega, entrega-a é o único método.
Estes cento e
doze métodos requerem certa vontade; requerem que faça algo. Manipula sua
energia, equilibra sua energia, cria um centro em seu caos. Faz algo. Seu
esforço é significativo, básico, necessário. No caminho da entrega só se
necessita uma coisa: entrega-te. Aprofundaremos nestes cento e doze métodos,
assim é bom dizer algo sobre a entrega, porque não tem método.
Nestes cento e
doze métodos não haverá nada sobre a entrega. Por que não é dito nada sobre a
entrega? Porque não se pode dizer nada. A mesma Bhairavi, a mesma Devi, não
chegou a Shiva por meio de nenhum método. Simplesmente se entregou. Assim terá
que dar-se conta disto. Não está fazendo estas perguntas para si mesmo; estas
perguntas se estão fazendo para toda a humanidade. Ela chegou a Shiva. Ela já
está em seu regaço; é abraçada por ele. Ela se fundiu com ele, mas ainda
pergunta.
Assim recorda uma
coisa: ela não está perguntando para si mesma, não há nenhuma necessidade. Está
perguntando para toda a humanidade.
Mas se ela já
chegou, por que está perguntando a Shiva? Não pode falar ela mesma com a
humanidade? Ela chegou pelo caminho da entrega, de maneira que não sabe nada
sobre o método. Ela mesma chegou mediante o amor; o amor é suficiente em si
mesmo, o amor não necessita nada mais. Ela chegou mediante o amor, de modo que
não sabe nada sobre métodos, técnicas. Por isso está perguntando.
Por que não é dito
nada Shiva sobre a entrega? Porque não se pode dizer nada. A mesma Bhairavi, a
mesma Devi, não chegou a Shiva por meio de nenhum método. Simplesmente se
entregou. Assim terá que dar-se conta disto. Não está fazendo estas perguntas
para si mesmo; estas perguntas se estão fazendo para toda a humanidade. Ela chegou
a Shiva. Ela já está em seu regaço; é abraçada por ele. Ela se fundiu com ele,
mas ainda pergunta.
Assim recorda uma
coisa: ela não está perguntando para si mesma, não há nenhuma necessidade.
Está perguntando
para toda a humanidade. Mas se ela já chegou, por que está perguntando a Shiva?
Não pode falar ela mesma com a humanidade? Ela chegou pelo caminho da entrega,
de maneira que não sabe nada sobre o método. Ela mesma chegou mediante o amor;
o amor é suficiente em si mesmo, o amor não necessita nada mais. Ela chegou
mediante o amor, de modo que não sabe nada sobre métodos, técnicas. Por isso
está perguntando.
E Shiva descreve
cento e doze métodos. Não falará da entrega, porque a entrega não é realmente
um método. Entrega-te só quando todos os métodos se tornaram inúteis, quando
não pode chegar por nenhum método. Fez tudo o que pudeste. Chamaste a todas as portas e nenhuma porta se abre, e passaste por
todas as rotas e nenhuma rota chega. Fez tudo o que pode fazer, e agora se
sente impotente. Nessa total impotência se produz a entrega. De modo que no
caminho da entrega não há método.
Mas o que é a
entrega e como funciona? E se a entrega funciona, que necessidade tem de cento
e doze métodos? Então por que entrar neles necessariamente?, perguntará a mente.
Então muito bem! Se a entrega funciona, é melhor entregar-se. Por que seguir
desejando métodos? E quem sabe se um método específico será apropriado para ti
ou não? E pode ser que demoremos muito em averiguá-lo. Assim é bom entregar-se, mas é difícil. É o mais difícil do mundo.
Os métodos não
são difíceis. São fáceis; pode-te adestrar. Mas para a entrega não te pode
adestrar..., não há nenhum adestramento! Não pode perguntar como te entregar; pergunta-a
mesma é absurda. Como pode perguntar como te entregar? Pode perguntar como
amar?
Ou há amor ou não
o há, mas não pode perguntar como amar. E se alguém te diz e te ensina como
amar, recorda: nunca será capaz de amar. Uma vez que te deu uma técnica para o
amor, aferrará à técnica. Por isso é que os atores não podem amar. Sabem tantas
técnicas, tantos métodos; e todos somos atores. Uma vez que sabe o truque de
como amar, o amor não floresce, porque criaste uma fachada, um engano. E como o
engano não está nisso, não está envolto. Está protegido.
O amor é estar
totalmente aberto, vulnerável. É perigoso, volta-te inseguro. Não podemos
perguntar como amar, não podemos perguntar como nos entregar. Acontece! O amor
acontece, entrega-a acontece. O amor e a entrega são profundamente uma só
coisa. Mas o que é? E se não podermos saber como nos entregar, ao menos podemos
saber como estamos nos mantendo a nós mesmos, como estamos impedindo de nos
entregar. Isso se pode saber e isso é útil.
Como é que ainda
não te entregaste? Qual é sua técnica de no-entrega? Se ainda não te
apaixonaste, então o verdadeiro problema não é como amar. O verdadeiro problema
é afundar profundamente para averiguar como viveste sem amor, qual é seu
truque, qual é sua técnica, qual é sua estrutura: sua estrutura de defesa, como
viveste sem amor. Isso se pode entender, e isso terei que entendê-lo.
O primeiro: vivemos com o ego, no ego, centrados no ego. Sou, sem saber
quem sou. Sigo proclamando: «eu existo». Este «eu-existo» é falso, porque não
sei quem sou. E a menos que saiba quem sou, como posso dizer «eu»? Este «eu» é
um falso «eu». Este falso «eu» é o ego. Esta é a defesa. Isto te protege da
entrega.
Não te pode entregar,
mas pode tomar consciência desta medida de defesa. Se tiver tomado consciência,
dissolve-se. A partir de então, não o segue fortalecendo, e um dia chega a sentir: «eu não sou». No
momento em que chega a sentir «eu não sou», produz-se a entrega. Assim trata de
averiguar se for. Em realidade, há um centro em ti que possa chamar seu «eu»?
Afunda profundamente em seu interior, segue tratando de averiguar onde está
este «eu», onde está a morada deste ego.
Nenhum comentário:
Postar um comentário